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[Marco Antônio Jacob] – Somos vacas de presépio, acordem produtores de café – A falácia do guarda chuva

MARCO ANTÔNIO JACOB
Corretor e produtor de café em Espírito Santo do Pinhal (SP).
Especialista pelo Centro de Formazione e Assistenza allo Sviluppo – Viterbo – Itália
marcoantoniojacob@gmail.com

 

Dialogando com pessoas do setor cafeeiro, sobre o artigo “Dois papas e o preço vil do café” (https://revistadeagronegocios.com.br/marco-antonio-jacob-dois-papas-e-o-preco-vil-do-cafe/), fui questionado se a aplicação de PREÇO REFERÊNCIA DE EXPORTAÇÃO do café brasileiro poderia causar o efeito guarda chuva.

Para aqueles que não sabem o que é efeito guarda chuva, aqui vai uma breve explicação: efeito guarda chuva é quando tomamos uma medida restritiva, porém os outros se beneficiam desta medida, pois não têm esta restrição.

Resumindo, existe a possibilidade de perdemos “market share” (mercado) se criarmos o PREÇO REFERÊNCIA DE EXPORTAÇÃO baseado no custo de produção do café brasileiro?

A resposta é NÃO , NÃO e NÃO , explico abaixo :

Pelo bom senso, sendo o Brasil, um dos produtores de café com custo mais baixo, como poderão os outros concorrentes vender abaixo deste custo, simplesmente se o fizerem, eles vão quebrar subsidiando os consumidores ricos.

Mas se os governos deles bancarem subsídios de exportação, hipótese surrealista, pois são países pobres; basta o Brasil denuncia-los a OMC – Organização Mundial do Comércio.

Dado as afirmações acima, fui pesquisar e verificar se realmente o Brasil é o país com um dos custos mais competitivos na produção de café mundial, abaixo o gráfico de variação de custo de produção, disponibilizados pelo OIC em 4 de março de 2013, pagina 4. http://www.ico.org/presents/1213/march-ico-outlook.pdf

Apesar dos dados apresentados serem de 2004 a 2011, este gráfico sugere que o Brasil teve a MENOR variação de custo de produção dos países listados (Colômbia, Equador, Guatemala, Cuba, Costa Rica).

Mas é necessário sabermos o custo de produção de nossos concorrentes, nossas embaixadas nos países produtores poderiam levantar estes custos de produção, quem sabe a OIC tenha estes dados.

Mas de acordo com alguns experientes agentes de mercado internacional de café , estes me afirmam que somos competitivos na produção de arábicos mundial.

Mas supondo que o Brasil seja competitivo, vamos às causas e efeitos, caso o Brasil instituía esta política de PREÇO REFERÊNCIA DE EXPORTAÇÃO.

Conforme ultimo relatório da Archer Consulting, os “hedging funds”, têm “uma posição bruta de 19.4 milhões de sacas de 60 quilos “short”“.

 http://www.archerconsulting.com.br/comentarios/comment_cf67355a3333e6e143439161adc2d82e.html

Vou tentar traduzir o que significa isto:

Os negócios mundiais de cafés arábicos têm como referência o contrato “C” do ICE “Intercontinental Exchange”, a famosa bolsa de Nova York, então quase todos os negócios de cafés arábicos têm como referencia este contrato, que é um contrato de cafés lavados (washed), no qual o café cereja descascado ou despolpado brasileiro pode ser entregue, com misero desconto de 9 centavos , vejam que só esta clausula demonstra que este contrato não reflete a realidade dos negócios de café.

Como os fundos estão vendidos (short), 19,4 milhões de sacas, ficam pressionando o preço para baixo, a função destes fundos é fazer dinheiro, ganhar dinheiro, a proximidade deles com o café talvez seja a maquina de expresso perto de seus operadores.

No terminal de bolsa, temos a expressão máxima do capitalismo, lei da oferta e procura, mas não do café, e sim do contrato, é medido a força de compradores e vendedores daquele singular contrato, lógico que todas os fundamentos do café estão intrinsecamente embutidos nas decisões.

Se o Brasil como líder do fornecimento de café mundial instituiu este PREÇO REFERÊNCIA DE EXPORTAÇÃO, que é proveniente do custo de produção, isto é, não é um preço artificial e sim baseado em CUSTOS, que hoje acredito ser MAIOR que as cotações de Nova York (sou produtor de café e sei quanto custa produzir café), estes fundos que estão vendidos em Nova York, irão rapidamente recomprar suas posições, mas uma vez quero deixar bem claro que os fundos não têm orgulho ou vaidades, o negócio deles é fazer dinheiro, pois não são idiotas de ficarem vendidos num mercado em que o suprimento de café será interrompido quando sua cotação for inferior aos custos.

Se os fundos recomprarem parte de suas posições, logicamente o mercado sobe , veja bem, eles estão vendidos quase três (3) vezes a quantidade que o segundo maior produtor mundial de cafés arábicos, a Colômbia, exportou nos últimos 12 meses (7.525.367 sacas). http://www.ico.org/prices/m1.htm

Tenho novamente que lembra-los que os estoques hoje nos países importadores são regulares, nada de expressivo, qualquer falha no suprimento de café, torna estes estoques insuficientes, atualmente o consumo apenas nos países importadores é aproximadamente 9 milhões de sacas/mês ,se o suprimento de café da origens for interrompido , os fundos hedges não poderão blefar por muito tempo com posições vendidas.

Para corroborar mais com estas minhas afirmações, a maioria do estoque de café certificados na Bolsa de Nova York são de cafés velhos, cafés lavados velhos, que perdem suas características mais acentuadamente que os cafés naturais, então podemos dizer que o poder de estoques nos países importadores é mais frágil que a realidade dos números de estoques.

Finalizando, nesta semana recebi uma ligação do Vaticano, e me disseram que exportar café abaixo do custo não é apenas extrema burrice e pecado, também é crime, pois prejudica milhões de pessoas produtoras de café de países pobres, tornando-os mais miseráveis ainda, que governos que permitem esta sandice, são mal-intencionados, que aqueles que o fazem arderão no fogo do inferno.

Agora só falta alguém argumentar que uma Nação instituir PREÇO REFERÊNCIA DE EXPORTAÇÃO baseado em custo de produção é interveniência no mercado, o Vaticano também me alertou que se alguém disser isto, deve ir direto para o paredão, assim eles encaminham mais rapidamente para as profundezas do além.

Se alguém quiser debater esta medida de PREÇO REFERÊNCIA DE EXPORTAÇÃO nos impactos na cadeia do café, estou à disposição , aproveitando , tenho outras sugestões para tirar o café do marasmo que se encontra há décadas.

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