MARCO ANTÔNIO JACOB
Corretor e produtor de café em Espírito Santo do Pinhal (SP).
Especialista pelo Centro de Formazione e Assistenza allo Sviluppo – Viterbo – Itália
marcoantoniojacob@gmail.com
Estamos em Julho e já se colheram aproximadamente 2/3 da produção brasileira de café, e, no caso específico dos cafés arábicas, podemos considerar que a colheita já ultrapassou os 60% das áreas de cultivo. Há relatos de produtores em fase final de varrição e outros que já terminaram toda a colheita.
No primeiro trimestre de 2014, a cafeicultura brasileira de arábicas foi afetada por um severo conjunto de anomalias climáticas, todas correlacionadas entre si:
a) Severa estiagem,
b) Altas temperaturas,
c) Menor umidade relativa do ar e
d) Excessiva radiação solar.
O retorno à normalidade hídrica deu-se apenas de Março a meados de Abril, mas daí em diante as chuvas foram escassas e esparsas na maioria das regiões produtoras, retomando, em termos médios, a valores históricos absurdamente baixos de disponibilidade de água no solo e umidade do ar para a entrada do inverno. Os valores, hoje, são típicos do final de Agosto. Imagine “quando Setembro vier” neste ano de 2014!
Mesmo as lavouras irrigadas apresentam quebra de produção, com menores rendimentos (relação de frutos/ grãos de cafés), com perdas relatadas em até 15%. Por essa razão devemos considerar não somente a estiagem ocorrida nas principais áreas de cafeicultura dos arábicas brasileiros, mas também as extremas temperaturas observadas no mesmo período entre as demais anomalias ambientais de 2014.
Já se tem uma amostragem representativa dos cafés que foram colhidos e, na totalidade dos lotes, dependendo das condições das lavouras (região e microrregião, altitude, tipo de solo, idade da planta, face de exposição ao sol, condições fitossanitárias dos cafeeiros etc.), podemos observar com maior ou menor incidência, os problemas abaixo:
i) Menor tamanhos dos grãos (favas)
ii) Incidência de grãos leves (apesar da fava grande, a sua densidade é menor)
iii) Alta incidência de café chochos e mal granados
iv) Muitos frutos vazios (ausência ou insignificância de grão)
Há de se observar que a quantidade de horas é menor para a secagem dos frutos nos terreiros e secadores, principalmente devido aos frutos já virem mais desidratados das lavouras e com menor massa, induzindo erros na seca, muitas vezes alcançando valores bem abaixo de 11%. Há que se mencionar também que os cafés recém-beneficiados apresentam uma coloração opaca, não sendo aquela verde usual que conhecemos. Alerte-se ainda que, em alguns casos, muitos grãos de peneira 17 e 18 estão ficando “enrugados” após a torra, devido à baixa densidade, consequência da má granação. Isto é novo e alarmante para o mercado dos cafés torrados em grãos, necessários a algumas máquinas de espresso.
Dentro do raciocínio que se está apresentando, podemos considerar, sendo conservadores e otimistas, que em Janeiro deste ano, o potencial produtivo da safra brasileira de café para 2014, era de 54 milhões de sacas, sendo 37 milhões de sacas de cafés arábicas (sendo 5 milhões de cafés irrigados e 32 milhões de cafés de sequeiro) e 17 milhões de sacas de conilons, apesar de que já fomos alertados por especialistas capixabas do INCAPER que este valor era super-estimado, uma “ilusão de ótica”, ou uma miragem comparativa ao desastre produtivo de 2013.
Lembrando que nos últimos dois anos os tratos culturais foram inferiores, e que o ano de 2015 já seria de bienalidade baixa, poderíamos projetar a safra de 2015 em 34 milhões de sacas cafés arábicas (sendo 5 milhões de sacas de cafés irrigados e 29 milhões de sacas de cafés de sequeiro) e 16 milhões de sacas de conilon, totalizando 50 milhões de sacas.
Devido aos relatos de vários produtores até a presente data, as diminuições dos rendimentos são maiores que os projetados antes de iniciar a colheita, e, conforme os últimos números relatados pela COOXUPÉ, a perda de rendimentos na safra atual atinge o montante de 23%.
Existe uma decepção latente, pois conforme a colheita avança a perda de rendimento tende-se a se acentuar.
Também, os cafeeiros que já tiveram sua colheita efetuada demonstram-se esquálidos e depauperados (desfolhados), onde se pode notar nitidamente que o crescimento vegetativo está muito inferior a normalidade, com grande quantidade de ramos secos. E, assim sendo, deveremos ter nos próximos 60 dias um intenso movimento de podas (esqueletamento), indicativo adicional de menor safra a ser colhida em 2015.
Foi observada em várias regiões a infestação de ferrugem tardia, e alguns agrônomos e pesquisadores argumentam que os tratamentos fitossanitários sistêmicos não tiveram seu pleno efeito devido à baixa hidratação das plantas e a deficiência hídrica dos solos.
Há de se ressaltar que atualmente os solos das principais regiões produtoras estão com um enorme déficit hídrico, e a grande preocupação é se as chuvas vindouras até setembro/outubro serão capazes de corrigir esta deficiência.
Pesquisadores e agrônomos também se preocupam como os cafeeiros vão responder para a safra de 2015, diante da complexidade do seu metabolismo, e como seus hormônios influenciarão a indução floral, a florada e o vingamento das flores e o pegamento dos frutos, dado ao conjunto de anomalias citadas anteriormente.
E a última observação a se fazer é que, além do menor crescimento vegetativo global do cafeeiro, os internódios estão muito curtos, e, em havendo o vingamento da florada em frutos, os mesmos, por falta de espaço, poderão se expulsar mecanicamente, ampliando a queda típica hormono/nutricional dos frutos, 4 a 6 semanas após o vingamento floral.
Sabe-se o quanto é desagradável os relatos aqui citados, mas esta é a realidade da cafeicultura de arábicas brasileiros neste momento.
Dado os relatos aqui apresentados, consequência de muitas conversas com vários pesquisadores, agrônomos e produtores, e visitas a diversas regiões produtoras, a perspectiva de quebra para safra a ser colhida em 2015 varia de 30% a 40%.
Sendo assim, vamos a uma reflexão sobre as colheitas de 2014 e 2015 e fazer um exercício matemático norteador das projeções para as próximas safras de cafés arábicas brasileiros.
Tomaremos como base para a safra de 2014 a perca de 23% anunciada pela COOXUPÉ (e pelo Prof. Rena, em artigo de Abril/14) , e para a safra de 2015 o número menor de perca, 30% informado pelos especialistas.
Concluindo, infelizmente não é utopia, desde que não haja mais intempéries climáticas, projetar as perdas acumuladas no biênio de 2014 e 2015 em 16,56 milhões de sacas, exclusivamente nos cafés arábicas, com uma estimativa de safra para 2014 em 46,39 milhões (29,36 milhões de arábicas e 17 milhões de conilon) e para a safra de 2015 em 41,05 (25,05 milhões de sacas de árabicas e 16 milhões de sacas de conilon).
Alerta-se que para colhermos as quantidades estimadas para a safra de 2015, não poderemos enfrentar qualquer adversidade climática, e que o déficit hídrico em setembro/outubro retorne à normalidade, isto é, será absolutamente necessário que as chuvas deste final de Julho e de Agosto/Setembro sejam muito acima do normal.
Perder a Copa das Copas, e perder da Alemanha de 7 x 1, é refresco perto da perda do setor cafeeiro.