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[Marco Antônio Jacob] – Dois Papas e o preço vil do café

MARCO ANTÔNIO JACOB
Corretor e produtor de café em Espírito Santo do Pinhal (SP).
Especialista pelo Centro de Formazione e Assistenza allo Sviluppo – Viterbo – Itália
marcoantoniojacob@gmail.com

 

Modernizando as relações comercias na exportação de café. Estamos em pleno século XXI , vejam quantas evoluções , internet , skipe , facebook ,tablets, até dois Papas temos, o Papa Emérito e o Papa Francisco.

Então porque não modernizar as relações comerciais entre produtores e importadores?

Uma palavra em voga hoje, defendida por 101% do setor cafeeiro é a SUSTENTABILIDADE. Baseado nesta SUSTENTABILIDADE, podemos afirmar que os oligopólios industriais não podem admitir que se compre a matéria prima abaixo do custo de produção , quis dizer que isto é inadmissível na cartilha da SUSTENTABILIDADE , milhares de produtores de países pobres , vendendo abaixo do custo de produção a matéria prima pelo qual as industrias dos países desenvolvidos vão agregar valor e vender aos seus consumidores, com um selinho bonitinho estampado “sustainable” na embalagem.

Então , em respeito ao principio da SUSTENTABILIDADE , vamos a medidas inteligentes aqui no Brasil, já que somos o líder mundial de produção de café.

Primeiros passos: Vamos contratar a FGV , Fundação Dom Cabral , PricewaterhouseCoopers, enfim , uma instituição com credibilidade, para apurar o custo de produção do café brasileiro , lembrando que serão levantados custos de produção separados para as duas espécies de café produzido no Brasil , café arábico e café conilon.

É necessário que estes “custos” deverão contemplar todos os custos, isto é, insumos, depreciações, custo de capital, custo de mão de obra e seus encargos legais, salário de gerenciamento dos produtores, impostos, contribuições, intempéries climáticas, seguros, fretes, embalagens, previdência etc. , enfim , TODOS OS CUSTOS , como fazem as industrias modernas nos países desenvolvidos.

Então teremos o custo ponderado (por regiões, mecanizado, de montanha, irrigado, de sequeiro; empresarial, familiar etc.) do café arábico brasileiro e do café conilon brasileiro, considerando a bienalidade de produção dos cafeeiros, então os custos serão calculados pela média de produtividade de 2 anos.

Uma coisa importante, estes custos serão abertos a todos os interessados, com maior transparência possível, inclusive se as certificadoras estrangeiras quiserem auditar, estarão prestando um favor ao setor cafeeiro mundial , não precisam também achar que estamos entregando o ouro para os bandidos , pois uma das maiores empresas produtora de café do Brasil, Ipanema , é uma sociedade de capital japonês , alemão , norueguês e brasileiro. Encontrado o custo de produção, o segundo aspecto a ser levantado é o custo de exportação, a famosa “charge”, que também será calculada pela mesma instituição credenciada que apurou os custos de produção.

Estes custos de produção acrescidos da “charge” de exportação, serão atualizados quinzenalmente, assim encontraremos o custo do café brasileiro FOB atual, convertidos a taxa de cambio (REAL X DOLAR) média dos 15 dias anteriores , que será o PREÇO REFERENCIA DE EXPORTAÇÂO , para a quinzena seguinte.

Este PREÇO REFERENCIA DE EXPORTAÇÂO do café brasileiro será o preço mínimo permitido para exportação de café brasileiro, abaixo deste preço referencia, nenhum grão de café sairá do Brasil, isto é, não permitiremos a venda e transferência de estoques a preço vil.

No momento que os preços de mercado sejam próximos ao custo de produção, haverá linhas de credito para financiar a estocagem, seja os produtores , cooperativas, comerciantes, exportadores, industrias instaladas no Brasil etc.

As origens destas linhas de financiamento serão provenientes do FGTS, Recursos do Crédito Rural, e, das Reservas Internacionais do Brasil, que em 27 de março de 2013 atingiam o montante US$ 376,45 bilhões , então não vai faltar recursos para financiamento de estoques , se tivermos que estocar 100% da safra brasileira , recursos não faltarão.

Ao invés de financiarmos débitos públicos internacionais, vamos financiar o trabalho e produto dos cafeicultores brasileiros, afinal, estas reservas são da sociedade brasileira, que nós cafeicultores brasileiros fazemos parte, recordem-se quando o café era responsável por 90% da receita de exportações totais do Brasil.   Não se preocupem achando que o Brasil vai perder mercado, pois na produção de arábicos somos o País com um dos menores custos de produção mundial, então nosso “market share” permanecerá estável, simplesmente não vamos transferir estoques de café a preço vil, abaixo dos custos.   Tenho certeza que aparecerão vozes contrarias a esta ideia, talvez algumas com sotaques estrangeiro , dizendo que isto é ingerência no livre mercado , para este argumento respondo , a produção de café é uma concorrência perfeita (milhares de produtores) , quando a importação é feita por enormes oligopólios.

Ou será que é justo, fundos financeiros, sem nenhuma atividade fim com a cafeicultura, estarem vendidos, pressionando as cotações do contrato de café em Nova York, exatamente 39.243 contratos, que equivalem a 11.124.981 de sacas , para os leigos neste mercado de café , a Colômbia , maior produtora mundial de “washed coffees “ , este café que é o entregue na Bolsa de Nova York , exportou nos últimos 12 meses o total de 7.370.454 de sacas.

A lógica deste sistema esta na SUSTENTABILIDADE, a mesma apregoada pelos industriais junto a seus consumidores, enfim, já que o Brasil, por sua tecnologia e condições climáticas é o maior fornecedor mundial de arábico e com custos mais eficientes , se a industria mundial quer comprar abaixo do custo Brasil , quer comprar abaixo do custo mundial de produção , se esta ultima premissa é verdadeira , então não há SUSTENTABILIDADE em produzir café.

Basta de hipocrisia, não vamos exportar sofrimento, os dois Papas garantem que é pecado, além de extrema burrice. Bom, para aqueles que queiram minar esta ideia, usem seus argumentos, pois respeito o bom debate.

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1 comment

Somos vacas de presépio, acordem produtores de café 03/03/2019 at 18:05

[…] com pessoas do setor cafeeiro, sobre o artigo “Dois papas e o preço vil do café” (https://revistadeagronegocios.com.br/marco-antonio-jacob-dois-papas-e-o-preco-vil-do-cafe/), fui questionado se a aplicação de PREÇO REFERÊNCIA DE EXPORTAÇÃO do café brasileiro […]

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