CaféCafé e Mercado

[Marcelo Fraga Moreira] – Mercado do Café – “Um Olho no Céu e o Outro nos Custos das Lavouras”

MARCELO FRAGA MOREIRA
[Comentário Semanal – 04 a 08/12/2023]
É um profissional há mais de 30 anos atuando no mercado de commodities agrícolas,

escreve este relatório sobre café semanalmente como colaborador da Archer Consulting –
Assessoria em Mercados de Futuros, Opções e Derivativos Ltda.
www.archerconsulting.com.br

Mais uma semana com o mercado trabalhando bem volátil, tentando negociar “novas máximas e novas mínimas” (Set-24 fechamento sexta-feira semana anterior / mínima / máxima / mínima / máxima / mínima / máxima e fechamento respectivamente @ +182,90 / +175,50 / 184,15 / +175,10 / +182,70 / +175,60 / +179,10 / +177,25 centavos de dólar por libra-peso). A variação diária ao redor dos +/- 500 pontos está sendo ótima apenas para os “especuladores de plantão” deixando os produtores inseguros e reduzindo a liquidez nas negociações do “mercado físico real”.

Alguns lotes para o café arábica tipo 6 foram novamente negociados acima dos +1.020 R$/saca; cereja descascado entre +1.050 / +1.100 R$/saca e café “varrição” entre +740 / +870 R$/saca; o café robusta conseguiu se segurar e firmar entre +680 / + 720 R$/saca.

Notícias frescas vindas do Vietnam contribuem e confirmam o cenário complicado e o aperto na oferta para o café tipo robusta na safra atual 23/24 do Vietnam. Segundo a analista Judie Ganes a situação por lá está bem difícil com um dos principais produtores locais tendo problemas graves nas suas lavouras e uma produção agora prevista entre +27 / +28 milhões de sacas. Na China rumores que a empresa Luckin vem “abrindo novos pontos de venda para impressionar os investidores porém não estão divulgando o número das lojas/franquias que estão sendo fechadas”. Segundo alguns observadores essa operação da Luckin esta sendo muito similar ao “esquema de pirâmide financeira” e em breve deveremos ter “notícias não tão boas assim”…

Na semana também tivemos a quebra da empresa Mercon. Não sabemos detalhes sobre a quebra da empresa mas novamente está relacionado aos “problemas com pandemia, logísticos, custos financeiros, chamada de margem e restrições de crédito junto aos bancos”. Infelizmente apenas alguns poucos saberão a verdade e as razões que levaram a quebra dessa empresa que já foi referência no setor. Uma pena pois, novamente, quem sai mais afetado é o elo mais fraco (produtor, funcionários diretos e empresas prestadoras de serviço). Especulações à parte, será que tinham alguma operação alavancada, com os famosos “acumuladores” nos livros? Dificilmente uma empresa de trading, operando no “papai x mamãe” quebra. Sabemos hoje que “recuperação judicial” virou um “modus operandi” onde os “donos saem ricos e os credores muito machucados”. Felizmente muitas empresas sérias irão ocupar esse espaço / oportunidade rapidamente.  

Voltando ao mercado interno brasileiro, reportado no mercado interesse comprador “firme” para lotes acima das +1.000 sacas (com alguns lotes de até +5.000 sacas) sendo negociados em um único negócio (onde o comprador pede para não ser identificado, entrando no mercado, “fazendo uma limpeza” nas ofertas e saindo sem ser notado)! Ou seja, a demanda continua firme e as ofertas também!

A onda de calor continuou preocupando os produtores. Muitos produtores continuam “tocando o terror” nos grupos de whatsapp reportando uma visão “catastrófica” para o desenvolvimento da safra 24/25 com a queda excessiva de chumbinhos e lavouras “secas”. Nas regiões do norte do Espirito Santo e sul da Bahia aparentemente os problemas climáticos estão sim afetando a produtividade da próxima safra 24/25 do café tipo robusta. Porém em outras regiões outros produtores rebatem esse quadro “catastrófico” dizendo que essa queda dos chumbinhos para essa época do ano é normal e “faz parte do jogo”!

Desde a última quinta-feira boas chuvas voltaram a cair em muitas regiões e esse “alívio” deverá trazer nova pressão vendedora já na próxima semana. Se as chuvas voltarem com abundância nos próximos 15 dias muitas lavouras ainda poderão se recuperar e apresentar resultados positivos na próxima colheita. O grande risco agora já começa a ser a ocorrência de uma nova geada entre maio-agosto-24 podendo, aí sim, afetar a safra 25/26.

Vale a pena assistir o comentário do Gustavo Rennó referente “Os chumbinhos estão caindo” no youtube:

O Itaú-BBA realizou um seminário onde apresentou sua estimativa para a próxima safra 24/25 similar a projeção do USDA* para a safra atual 23/24 (ao redor dos +66,40 milhões de sacas). Aparentemente, após o posicionamento da CNC* na semana passada questionando a estimativa da Hedgepoint (próxima safra brasileira 24/25 recorde em +74,24 milhões de sacas) as próximas estimativas publicadas serão bem mais “conservadoras” e poucos irão querer se expor. Novamente, qual será o “note de corte” aceitável pela CNC*? Já sabemos que +74,24 milhões de sacas é um “número absurdo”. Uma projeção entre +69/+71 milhões de sacas (segundo a Safras e Mercado) deve ser aceitável pois a CNC* não contestou! E essa agora do Itaú-BBA em +66,40 milhões de sacas?

O IBGE* ajustou a projeção para a safra 23/24 em +56,30 milhões de sacas (+38,90 milhões de sacas para o café tipo arábica e +17,40 milhões de sacas para o café tipo robusta) x +54,36 milhões de sacas segundo a CONAB* (+38,16 milhões de sacas para o café tipo arábica e +16,20 milhões de sacas para o café tipo robusta).

As estimativas dos custos de produção continuam variando muito. Durante minha participação em um seminário nessa semana no sul de Minas, e visitando alguns produtores na região de Franca-SP, a estimativa é que o custo de produção atualmente oscila entre +15.000 R$/hectare até +40.000 R$/hectare para uma produção estimada entre +25 até +45 sacas por hectare para o café tipo arabica e entre +60 até +120 sacas por hectare para o café tipo robusta. Para alguns produtores “grandes”, com produção acima dos +10.000 sacas do café tipo arábica, o custo está estimado ao redor dos +22.000 R$/hectare para uma produção ao redor dos +30/+35 sacas/hectare. Então, tomando por base essa premissa do produtor “mais eficiente”, temos hoje um “custo de produção Brasil” para o café arábica ao redor dos +735 R$/saca! Os números / resultados são muito sensíveis e claro, 100% atrelados ao rendimento/hectare. Se no exemplo acima, o mesmo produtor conseguir colher +40 sacas por hectare então o seu custo irá reduzir para +550 R$/hectare. Porém, se o seu rendimento cair para +23 sacas por hectare, então seu custo irá explodir para +956 R$/saca!

Para o café tipo robusta, estimando o custo médio ao redor dos +30.000 R$/hectare porém com uma produtividade entre +80 / +120 sacas por hectare, então hoje o custo para o produtor do café tipo robusta estaria entre +375 / +250 R$/saca. Para o produtor trabalhar no “break-even” (nesse custo estimado em +30.000 R$/hectare) então o produtor estaria colhendo apenas +45 sacas por hectare – o que é muito pouco provável para o produtor do café tipo robusta! Aparentemente o produtor do café tipo robusta não tem muito do que reclamar pois ainda está conseguindo comercializar com um resultado “bem interessante” (salvo os que realmente estão tendo problemas reais com a seca). Infelizmente poucos produtores do café tipo robusta mitigaram seus riscos realizando a compra dos seguros clássicos contra problemas climáticos oferecidos pelos principais bancos e corretoras de seguros agrícolas!

Considerando que +70% / +80% da produção brasileira vem do “pequeno” produtor com uma área plantada ao redor dos +10 hectares, então, extrapolando para um custo ao redor dos +30.000 R$/hectare e uma produção média ao redor dos +25 sacas/hectare para o produtor do café tipo arábica e +60 sacas/para o produtor do café tipo robusta, então o “produtor médio brasileiro” do café tipo arábica e do café tipo robusta está tendo um custo médio estimado ao redor dos +1.200 R$/hectare para o café tipo arábica e +500 R$/hectare para o café tipo robusta!

Se os custos e as premissas acima estiverem corretos, próximos da realidade de +70/+80% dos produtores brasileiros, então o mercado do café tipo arábica deveria estar negociando “mais próximo” dos +1.100/+1.200 R$ por saca para a próxima safra 24/25 e 25/26 e não abaixo dos +1.000/+950 R$/saca. E acima dos +650 / +700 R$/saca para o café tipo robusta!

Na semana tivemos reportado alguns negócios para o café arábica tipo 6 para a próxima safra 25/26 para, entrega julho-agosto-25 @ +1.000 R$/saca! Para esse produtor do café tipo arábica “+1.000 R$/saca está ótimo”!

O “pequeno produtor” precisa investir em tecnologia, em conhecimento, em gestão para poder crescer, virar um “médio / grande” produtor. Caso contrário não terá como competir com um vizinho / “concorrente” que consegue produzir pela metade do seu custo!

Infelizmente a Cecafé* nessa semana não atualizou os dados diários das “emissões/embarques” do mês de dezembro-23. A última e única atualização nessa primeira semana de dezembro-23 foi no dia 04 de dezembro (segunda-feira da semana) indicando uma projeção inicial para a exportação no mês de dezembro-23 ao redor dos +3.250.000 sacas. Os números finais referentes ao mês de novembro-23 deverão ser publicados nos próximos dias (segunda/terça-feira).

Segundo última publicação do CFTC* os fundos + especuladores estão agora comprados em +17.751 lotes (aumentaram a posição em +2.753 lotes).

No curto prazo o “mercado virou” com os indicadores de curto prazo indicando possibilidade para novas realizações (ainda mais agora com a confirmação das chuvas desse final de semana) com os principais contratos/vencimentos devendo “buscar” a média-móvel dos +200 dias em todos os próximos vencimentos! Isso representa uma queda para a próxima semana entre -800/-1.200 pontos (aproximadamente entre -50/-80 R$/saca)!

No curto prazo creio que poderemos ver o Março-24, Julho-24 e Set-24 voltando a negociar abaixo dos +168 centavos de dólar por libra-peso com um piso ao redor dos +160 centavos de dólar por libra-peso.

Caso o produtor decidir realizar vendas através de “trava futura” para entregar seu produto nos meses de julho-agosto-24 e/ou julho-agosto 25 acima dos +950/+1.000 R$/saca não esquecer de comprar proteção /seguro para sua lavoura através da compra de opção de compra “call*” ou estrutura “call-spread*” para se proteger contra eventual quebra na sua produção com risco do calor e/ou geadas.

Sugestão: analisar a compra da estrutura “call-spread*” +190 / -220 centavos de dólar por libra-peso no vencimento Dez-24. Dessa forma, o produtor ficará “vendido” @ +950 R$/saca e se o mercado subir em função de algum fator climático / macro o produtor voltará a participar do mercado entre o intervalo +1.033 / +1.233 R$/saca.

Produtor, como sempre, proteja-se!

O preço poderá cair? SIM!

O preço poderá subir? SIM!

boa semana a todos!

-x-x-x-x-x-x-x-

** “Call” = opção de Compra

** “Put” = opção de Venda

** “Compra Call-Spread” = compra e venda simultânea de 2 Opções de Compra comprando a Opção com preço de exercício mais baixo vendendo a Opção com preço de exercício mais alto);

** “Venda Call-Spread” = venda e compra simultânea 2 Opções de Compra vendendo a Opção com preço de exercício mais baixo e comprando a Opção com preço de exercício mais alto);

** “Compra Put-Spread” = compra e venda simultânea 2 Opções de Venda comprando a Opção com preço de exercício  mais alto e vendendo a Opção com preço de exercício mais baixo);

** “Venda Put-Spread” = venda e compra simultânea 2 Opções de Venda vendendo a Opção com preço de exercício  mais alto e comprando a Opção com preço de exercício mais baixo);

** “CFTC” = Commodity Futures Trading Commission – agência independente do governo dos Estados Unidos que regula os mercados de futuros e opções das commodities;

** “IBGE” = Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

 ** “Cecafé” = Conselho dos Exportadores de Café do Brasil

** “SECEX” = Secretaria comércio exterior

** “CNC” = Conselho Nacional do Café

** “USDA” = Departamento da Agricultura dos Estados Unidos

** “FNC” = Federação Nacional dos Cafeicultores da Colômbia

** “FAS” = Serviço Agrícola Estrangeiro do USDA*

** “OIC” = Organização Internacional do Café

** “GCA” = Green Coffee Association

** “ABIC” = Associação Brasileira da Indústria de Café

** “Sincal” = Associação dos Produtores do Brasil

** “NDF” = (Non-Deliverable Forward), um contrato a termo de moeda com liquidação financeira, com vencimento para aquele mês

** “Pib” = Produto Interno Bruto

** “FED” = Banco Central Americano

** “NOAA” = Departamento Nacional da Atmosfera e Oceanos dos Estados Unidos

** “EUROSTAT”  = Serviço de Estatística da União Europeia responsável pela publicação de estatísticas e indicadores de elevada qualidade a nível europeu que permite a comparação entre países e regiões

** “OPEP” = A Organização dos Países Exportadores de Petróleo

** “COOXUPÉ” = Cooperativa Regional de Cafeicultores em Guaxupé

** “Coccamig” = Cooperativa Central de Cafeicultores e Agropecuaristas de Minas Gerais

** “PIB” = Produto interno Bruto de um país

** “COPOM” = Comitê de Política Monetária, é um órgão do Banco Central. Ele foi criado em 1996 com o objetivo de traçar e acompanhar a política monetária do país. Esse é o órgão responsável pelo estabelecimento de diretrizes a respeito da taxa de juros

** “BASIS” = O basis é a disparidade de preço causada pela diferença geográfica entre os pontos de entrega da commodity. Ele é calculado subtraindo o valor da commodity no mercado físico em determinada praça, pelo preço do mesmo produto no mercado futuro.

** “Bandas de bollinger” = do inglês bollinger bands, é um indicador de volatilidade bastante utilizado para prever se um ativo está sobre-comprado, estável ou sobre-vendido. Ele é formado por duas médias móveis, uma superior e outra inferior que indicam tal informação. São alguns atributos desse indicador:

  • Antever os níveis de preço de um ativo
  • Antecipar topos e fundos de preço no gráfico
  • Mostrar a intensidade de valorização ou desvalorização de um ativo

Portanto, este indicador tenta mostrar se uma ação está barata ou cara, em um determinado período de tempo.

Desse modo, ele é indicado para operações de curto prazo,  ou .

O autor da técnica é o americano John Bollinger (nascido em 1950), analista financeiro e colaborador da área de análise técnica. John lançou o seu livro Bollinger on Bollinger Bands em 2001, mas essa técnica começou a ser desenvolvida por ele ainda na década de 1980. As bandas são derivadas das médias móveis e mostram que, independente de qualquer movimento que o preço faça, ele tende a voltar a um equilíbrio. Portanto, temos aí um “estreitamento das bandas”.

** “PMI” = A sigla PMI significa, em inglês, Purchasing Manager’s Index e é um indicador que mede a atividade econômica de um país a partir de pesquisas mensais realizadas por uma empresa privada.

Assim, o PMI também é conhecido como Índice de Gerentes de Compra e seu principal objetivo é fornecer informações sobre a temperatura de alguns setores da economia e orientar os diversos profissionais do mercado.

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