CaféCafé e Mercado

[Marcelo Fraga Moreira] – Mercado do Café – “Hora de rever as Estratégias de Curto, Médio e Longo Prazo!”

MARCELO FRAGA MOREIRA
[Comentário Semanal – 19 a 23/02/2024]
É um profissional há mais de 30 anos atuando no mercado de commodities agrícolas,

escreve este relatório sobre café semanalmente como colaborador da Archer Consulting –
Assessoria em Mercados de Futuros, Opções e Derivativos Ltda.
www.archerconsulting.com.br

Com o feriado na segunda-feira nos EUA (dia do presidente) tivemos apenas 4 sessões nesta semana com um dos menores volumes diários negociados no ano – na quarta-feira foram negociados apenas +24.000 lotes. Desde o dia 13 de fev (terça-feira da semana passada) até a sexta-feira dessa semana (23 de fev) o Set-24 caiu praticamente -1.150 pontos! nesse periodo os fundos + especuladores reduziram suas posições compradas em -4.533 lotes e estão ainda comprados em +34.713 lotes.

A expiração do contrato Março-24 no próximo dia 18 de março deu um “calor” nos vendidos e o spread “março-24 x maio-24” chegou a negociar e encerrar a semana com -1.100 pontos! Difícil encontrar uma justificativa para esse “spread” tão elevado uma vez que o Brasil continua ainda exportando bem – segundo os últimos dados divulgados pela Cecafé* o Brasil deverá exportar novamente agora em fev-24 entre +3,80 / +4,20 milhões de sacas (conforme mencionado no comentário da semana passada). Com a exportação média mensal constante dos últimos 5 meses – ao redor dos +4,18 milhões de sacas – e considerando que o Brasil irá exportar +3,50 milhões de sacas em março e em abril e +3,00 milhões de sacas em maio e em junho-24, então o Brasil deverá exportar na safra 23/24 pelo menos +44 milhões de sacas!

Com essa exportação pujante então estou sendo obrigado a rever meus números e começando a ficar preocupado – ou mais “realista” possível! Porém “não matem o mensageiro”!

Infelizmente o estoque de passagem brasileiro é uma incógnita. Independentemente desse número o que interessa mesmo é que o Brasil ainda tem café disponível. Podemos chamar de “estoque de passagem elevado”, “safra grande”, “milagre brasileiro”… De qualquer forma o Brasil está demonstrando que deverá exportar aproximadamente +43/+44 milhões de sacas na safra 23/24. Segundo a Abic* o Brasil consome +21,60 milhões de sacas! Considerando então um “estoque de passagem de segurança” de apenas 3 meses suficientes para abastecer as necessidades mensais do consumo interno (+1,80 milhões de sacas por mês =+5,40 milhões de sacas) e as exportações (+3,50 milhões de sacas por mês = +10,50 milhões de sacas), então a safra brasileira 23/24 foi mesmo superior a +65,00 milhões de sacas! Então, podemos assumir que o “estoque de passagem” de um ano-safra para o outro sempre deverá ser ao redor dos +15,90 milhões de sacas!

Muitos produtores discordam desse número! Então, a outra única explicação plausível recai no estoque de passagem interno da safra 22/23 para a safra 23/24 sendo então superior a estimativa acima,  podendo ser +20/+25/+30 milhões de sacas!

Nos últimos dias as chuvas continuam “molhando” as principais regiões produtoras e o “mercado” está “comprando” a narrativa que a safra brasileira 24/25 conseguira se recuperar e ser novamente “grande” – pelo menos >= a safra atual (ou seja, acima dos +65 milhões de sacas). Atualmente as estimativas para a safra 24/25 variam entre +58 / +72 milhões de sacas! E, se tudo correr bem, as próximas safras 25/26 e/ou 26/27 poderão já ultrapassar as +80 milhões de sacas!

Os produtores de mudas (viveiros) estão produzindo e vendendo tudo o que produzem. Apesar da área plantada ser praticamente a mesma apontada pela Conab* em 2,25 milhões de hectares muitos produtores estão renovando áreas com clones mais resistentes, mais produtivos e com um menor espaçamento entre eles. Continuam expandindo e renovando lavouras, investindo em irrigaçãoe tecnologia.

Com essa potencial recuperação na produção brasileira e considerando um aumento no consumo mundial em +1,50% ao ano, então estaremos novamente repondo os estoques e o índice “estoque x consumo” estará sendo reconstruído voltando à números mais “tranquilos”, voltando a superar os +15% nos próximos 3 anos!

Com esse “pequeno” ajuste nas projeções para as safras 23/24, 24/25, 25/26 e 26/27 respectivamente em +65,50 / +70 / +80 / +75 milhões de sacas então está na hora do produtor vender, ou realizar o seu hedge “pra ontem”!

Por que números tão elevados? Considerando uma área plantada ao redor dos +2,00 milhões de hectares (sendo +1,570 hectares para o café tipo arábica e +430 mil hectares para o café tipo robusta) e considerando uma produção em sacas/hectare para os próximos anos para o café tipo arábica e para o café tipo robusta respectivamente em +33 sacas por hectare e +67 sacas/hectare então nos próximos 3 anos o Brasil poderá estar produzindo +51,80 milhões de sacas do café tipo arábica e +27,80 milhões de sacas do café tipo robusta (podendo ultrapassar a produção do Vietnam) totalizando uma produção total ao redor dos +80 milhões de sacas!

Sei que este relatório vai ser contestado por muitos – “Ele já está falando nas próximas safras 25/26, 26/27? Não sai do escritório, do ar condicionado e vêm agora estimando safras recordes! Você deve estar maluco”!

Pois é! Planilhas de excell aceitam tudo! Área plantada já está dada! Segundo a Conab* “A área total, destinada à cafeicultura no país em 2024, espécies arábica e conilon, totaliza 2,25 milhões de hectares, aumento de 0,8% sobre a área da safra anterior, com 1,92 milhão de hectares destinados às lavouras em produção, crescimento de 2,4% em relação ao ano anterior, e 336,3 mil hectares em formação, redução de 7% em comparação ao ciclo”.

A produtividade média atual estimada pela própria Conab* está em +26,70 sacas/hectare para o café tipo arábica e +44,30 sacas/hectare para o café tipo robusta! Isso considerando uma lavoura que foi afetada pelas geadas e secas durante os últimos 3 anos! Ora, sabemos que existem propriedades produzindo +50 sacas/hectare para o café tipo arábica e até +160/+180 sacas/hectare para o café tipo robusta! Claro que seria uma loucura imaginar que todas as regiões e fazendas irão aplicar as mesmas tecnologias, variedades, “que possuem a mesma topografia”… Sabemos que isso não existe, mas sabemos que muitos produtores estão sim investindo e expandindo buscando a sua excelência!

Creio sim ser possível a produtividade média por hectare aumentar e muito nos próximos 2-5 anos!

O café tipo robusta era negociado há 4 anos ao redor dos +280/+300 R$/saca e o café tipo arábica ao redor dos +500/+650 R$/saca – e nesses preços o café era rentável! Hoje, mesmo com o aumento dos custos em função da pandemia, guerras, efeito cambial, aumento nos custos dos fertilizantes/insumos o produtor está vendendo café tipo robusta acima dos +800 R$/saca e café tipo arábica acima dos +950 R$/saca (lembrar que no ano passado chegou a vender acima dos +1.500 R$/saca)!

Durante os últimos 4 anos eu já vi o mercado do café negociar @ +82 centavos de dólar por libra-peso e no mês de dezembro de 2019 atingir os +139 centavos de dólar por libra-peso para em seguida voltar para os +104 centavos de dólar por libra-peso! Depois presenciei o mercado subir como um “foguete” e atingir os +256 centavos de dólar por libra-peso para em seguida voltar a negociar @ +144 centavos de dólar por libra-peso. Novamente voltou a subir para os +210 centavos de dólar por libra-peso! Agora, estamos novamente em uma encruzilhada onde o “mercado” poderá buscar os +155/+130 centavos de dólar por libra-peso ou subir e romper os +250 centavos de dólar por libra-peso.

Durante toda essa movimentação, e durante os últimos 2 meses, posso contar nos dedos quantos produtores realmente se posicionaram e realizaram operações de hedge / proteção quando o “mercado” atual negociou acima dos +180 / +200 / +256 centavos de dólar por libra-peso.

A história está se repetindo, e com todo esse cenário “negativo”, essa “nuvem de uma nova tempestade perfeita” nas nossas cabeças, a grande maioria dos produtores continua “torcendo” por preços melhores e não compram “seguros” contra suas lavouras.

Pra que lado o mercado vai? Não sabemos! Mas as análises gráficas estão indicando “venda” no curto prazo!

Temos riscos do mercado voltar a cair em NY -1.000 / -1.500 pontos no café tipo arábica nas próximas semanas. Se os fundos + especuladores resolverem liquidar a posição e irem de “comprados para vendidos” poderemos ver as cotações em NY caírem ainda mais -3.000 / -5.000 pontos! Se o produtor entrar em pânico e sair vendendo o mercado poderá cair ainda mais!

O café tipo robusta continua dando sustentação para o café tipo arábica. Até quando? Impossível prever! Sabemos que os mercados de commodities trabalham em ciclos (vejam, por exemplo, o mercado do minério de ferro: saiu dos +90 US$/tonelada para +45 US$/tonelada para em seguida realizar uma alta extraordinária para os +230 US$/tonelada e hoje está ao redor dos +120 US$/tonelada. Idem para o petróleo: saiu dos +60 US$/barril para -30 US$/barril (na pandemia) para depois voltar para os +90 US$/barril)!

Volto a insistir que “o mercado é soberano” e a melhor forma para o produtor se proteger é realizando a sua lição de casa! Saber o seu custo de produção e se proteger!

Nessa semana o Set-24 rompeu o importante suporte @ +182,60 centavos de dólar por libra-peso (agora virou resistência). Apresenta importantes suportes @ +176,70 / +176,30 / +171,50 / +166,25 e +160,30. E resistências @ +182,60 / +184,60 / +185,90 / +186,10 / +195,50 centavos de dólar por libra-peso.

Como sempre, PROTEJA-SE!! O mercado será sempre “soberano”!

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