GLAYK HUMBERTO VILELA BARBOSA
Zootecnista, B.Sc Mestre Produção Animal Sustentável pelo Instituto de Zootecnia.
Jurado Efetivo de Raças Zebuínas e Assessor de Pecuária Leiteira.
E-Mail: glaykhumbertovilela@yahoo.com.br
VÂNIA MIRELE FERREIRA CARRIJO
Médica Veterinária, B.Sc Mestre Produção Animal Sustentável pelo Instituto de Zootecnia.
Docente do Centro Paula Souza. Atua na área de sanidade, escrituração
zootécnica e biotecnologia da reprodução.
O crescimento da população mundial, associado ao aumento do poder aquisitivo, deverá exigir um incremento na produção de alimentos de origem animal. Estima-se que em 2050 a população mundial será de 9,1 bilhões de pessoas, sendo necessário um aumento na produção mundial de carne de 292,8 para 465 milhões de toneladas em 2050, e na produção de leite de 720,9 para 1.043 milhões de toneladas nesse mesmo período (FAO, 2012).
Este cenário poderá se reverter em importante oportunidade para o Brasil, que ocupa posição de destaque na produção de proteína animal para o mercado internacional.
O aumento da eficiência dos sistemas de produção na pecuária será essencial para garantir incrementos na produtividade e redução dos impactos ambientais. Diante dos novos e crescentes desafios para produção sustentável, vários outros objetivos devem ser definidos para os sistemas produtivos de gado leiteiro, visando restaurar características funcionais e atender as demandas da sociedade (BOICHARD; BROCHARD, 2012).
Neste processo de busca pelo aumento da eficiência produtiva e ambiental dos sistemas de produção de leite, a aplicação do conceito de Bioeficiência assume papel fundamental.
O aumento da população e a urbanização aumentarão a demanda por produtos de origem animal e também a pressão para incremento da eficiência de utilização dos recursos naturais e de produção (terra, água,
energia, etc.). Ao mesmo tempo, a demanda social está relacionada ao bem estar dos animais, redução dos impactos ambientais e uso da terra.
A demanda dos consumidores é orientada principalmente em direção à segurança do alimento e à qualidade nutricional de produtos de origem animal. Já a demanda dos produtores está relacionada à lucratividade e concomitante aumento da eficiência da mão de obra nos sistemas produtivos (BOICHARD; BROCHARD, 2012). Informações relacionadas ao consumo de alimento pelos animais vêm sendo incluídas recentemente em programas de seleção de bovinos de leite e de corte com o objetivo de aumentar a eficiência alimentar, seja por meio da nutrição, do manejo e/ou da produção de genótipos superiores para tal característica.
Sabe-se que existe variação individual na eficiência de utilização dos nutrientes entre animais com características semelhantes (raça, sexo, idade) que ingerem o mesmo tipo de alimento. Porém, não são bem compreendidos os fatores que causam tais diferenças. A seleção de animais que consomem menos, para os mesmos pesos, ganho de peso, produção de leite, resulta em progênies divergentes para a mesma característica, indicando haver variação genética na eficiência de utilização dos nutrientes.
Várias medidas foram propostas ao longo dos anos para avaliar a eficiência alimentar, como: conversão alimentar, eficiência alimentar bruta e o consumo alimentar residual. Existe variação genética tanto na conversão alimentar como na eficiência alimentar bruta. Contudo, todas essas medidas citadas possuem limitações como características de seleção, por estarem correlacionadas com ganho de peso e peso à idade adulta.
Entende-se como eficiência alimentar a relação entre a quantidade de leite produzida (kg leite), por unidade de alimento consumido (Kg de matéria seca ingerida). Monitorar a eficiência alimentar dos rebanhos leiteiros é particularmente importante, uma vez que os custos com alimentação correspondem a 40 até 60% dos custos totais da produção de leite.
Para melhorar a eficiência alimentar de um rebanho é necessário buscar formas de se aumentar a digestibilidade total das dietas fornecidas aos animais, de forma que maior proporção dos nutrientes contidos nos alimentos seja aproveitada para produção de leite e menos sejam perdidos na urina, fezes, produção de gases e calor pelo animal.
É necessário observar que vários fatores podem afetar a eficiência alimentar dentro de um rebanho leiteiro, uma vez que as vacas não apresentam a mesma eficiência alimentar ao longo da sua vida produtiva e mesmo durante a lactação.
Vacas de primeira cria são menos eficientes que vacas adultas, uma vez que devem destinar parte dos nutrientes ingeridos para crescimento e ganho de peso. Vacas no início de lactação são mais eficientes em converter alimento em leite quando comparadas às em estágio mais avançado de lactação, sobretudo aquelas em final de gestação que necessitam direcionar parte dos nutrientes ingeridos ao crescimento do feto.
Técnicos e produtores de leite se deparam com o seguinte dilema: para se atingir maiores produções de leite, as vacas devem necessariamente comer mais alimentos, de modo que produção e ingestão de matéria seca correm paralelamente na maioria das vezes.
Por sua vez, digestibilidade e consumo não caminham juntos. Normalmente, quanto maior a ingestão de alimentos, mais rápida é a passagem destes pelo trato gastrointestinal e menor tende ser o tempo disponível para que ocorra digestão. Verifica-se, portanto, que aumentar a eficiência alimentar não é um trabalho tão simples.
Um dos métodos mais eficientes de aumentar a eficiência alimentar em rebanhos leiteiros é fornecer dietas aos animais que garantam máxima fermentação ruminal. Dietas bem equilibradas, contendo fontes e teores adequados de energia, proteína, com taxas de degradabilidade ruminal adequadas, teores de fibra que garantam estabilidade do pH ruminal são pontos críticos para maximizar a taxa de crescimento das bactérias ruminais e aumentar a extensão e velocidade com que os alimentos sejam degradados por estes microrganismos.
O fornecimento de dieta total tende a reduzir problemas de alterações súbitas no pH ruminal e favorecer um
ambiente mais favorável as bactérias ruminais, melhorando a digestibilidade da dieta. Porém, em sistemas a pasto, tal modalidade de alimentação é inviável, de modo que atenção especial deve ser dada com relação à quantidade de alimentos concentrados fornecidos por trato, evitando-se quantidades superiores a 2,5 kg de concentrado/trato. Obter forragem de mais alta qualidade também é importante porque diminuirá a quantidade de alimento concentrado a ser utilizado.
Outro ponto importante para otimizar a eficiência alimentar é evitar expor os animais à condições de estresse. Animais sob estresse térmico demandam mais energia para regular a temperatura corporal, reduzindo a energia que poderia ser utilizada para produção de leite.
Reduzida frequência de alimentação, pouca oferta de espaço de cocho, competição de animais de tamanho diferentes nos lotes, excesso de lama, são todas situações de estresse que devem prejudicar a eficiência alimentar.
Dietas mal formuladas ou com concentrações inadequadas de minerais também podem expor as vacas à determinados distúrbios metabólicos que concorrem para reduzir a eficiência alimentar, como cetoses, acidoses, laminites, hipocalcemia, retenções de placenta entre outros.
Um dos princípios básicos da nutrição de vacas leiteiras é maximizar o consumo de MS. Quanto mais as nossas amigas vacas comerem, mais leite nos darão. De maneira geral, essa afirmativa é verdadeira, mas será que isso acontece sempre?
Temos visto várias publicações focando a eficiência alimentar, e os especialistas têm falado em otimização, e não mais em maximização do consumo de MS.
A recomendação geral é de que o índice de eficiência alimentar média do rebanho deva ficar em torno de 1,5 kg de leite para cada kg de MS consumida, com vacas em início de lactação podendo chegar a 2:1 e vacas em final de lactação podendo chegar a índice baixos, em torno de 1:1. Via de regra, quanto maior a média de produção do rebanho, maior sua eficiência alimentar.
A eficiência alimentar é um índice muito útil para avaliar o desempenho de rebanhos leiteiros, sob determinadas condições de ambiente, manejo e alimentação. Quanto maior seu valor, maior será o retorno sobre o custo de alimentação, e, provavelmente, maior será a lucratividade da atividade leiteira.
Ainda há muitas áreas a serem pesquisadas para ampliar os conhecimentos atuais, o que pode trazer muitos benefícios aos produtores, com ênfase no aumento da capacidade de consumo de alimentos, aumento da eficiência digestiva e partição de nutrientes para síntese de leite.
REFERÊNCIAS
BOICHARD, D. E BROCHARD, M. New phenotypes for new breeding goals in dairy cattle. The Animal Consortium, v.6, p. 544-550, 2012. doi:10.1017/S1751731112000018
FAO. FOOD AND AGRICULTURE ORGANIZATION OF THE UNITED NATIONS. FAO statistical databases. Rome, 2006. Disponível em http:// faostat.fao.org. Acesso em 06 de março de 2012.
Mattos, W. R. S.. – Limites da eficiência alimentar em bovinos leiteiros – 41ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira de Zootecnia. Campo Grande, 2004.