EDER CARVALHO SANDY
Eng.° Agrônomo. ECS Consultoria Agronômica. Consultor em Cafeicultura. E-mail:- eder.sandy@ecsagro.com.br
IGOR RODRIGUES QUEIROZ
Eng.° Agrônomo. ECS Consultoria Agronômica. Colaborador. E-mail:- igorrqueiroz@gmail.com
ERIVAL GABRIEL GUIMARÃES FERREIRA
Eng.° Agrônomo. ECS Consultoria Agronômica. Colaborador. E-mail:- eggferreira1@gmail.com
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CESAR ELIAS BOTELHO
Eng.° Agrônomo. Pesquisador da EPAMIG
MARCELO JORDÃO FILHO
Eng.° Agrônomo. Fundação PROCAFÉ.
A irrigação se apresenta como uma prática de incremento de produtividade, associada a outras práticas de bom manejo (tratos culturais, fertilidade e nutrição equilibrada) do cafeeiro, juntamente com as exigências climáticas e a aptidão da região para a produção (Sandy et. al. 2015). De acordo com Pereira et. al. (2008), as condições de aptidão térmica para o café arábica, tona-se marginais por calor quando a média anual se encontra em 22-23 ℃, e atrelado a condições como citado por Matiello et. al. (2016), regiões cujo o déficit hídrico anual em torno de 100 a 200 mm, apresentam-se como regiões marginais, necessitando de irrigação eventuais.
Segundo Renna (2006) é fundamental a importância da deficiência hídrica moderada durante o período de repouso vegetativo (inverno) para a indução e formação das gemas florais. Um manejo pouco abordado é a irrigação utilizando lâmina baixa, ou seja, a evapotranspiração potencial (ETP) como fator determinante para a definição do turno de rega com reposição nunca igual ou superior ao valor da ETP de uma lavoura, fazendo com que ao final do período de inverno o déficit hídrico seja menor que o limite aceitável para o cafeeiro, que é de 170 mm (Alves, 2010), fazendo com que o cafeeiro não tenha longos períodos de deficiência hídrica e eventuais danos produtivos e fisiológicos, principalmente em regiões marginais.
O experimento em campo é conduzido na região da Alta Mogiana Paulista; estabelecido na Fazenda Glória, município de São José da Bela Vista (SP), de altitude 800 metros. A classificação climatológica de acordo com Koeppen é Cwb com precipitação média anual de 1.650 mm e temperatura média anual 21 ºC. No entanto, as medições locais apresentam temperatura média anual de 23ºC e déficit hídrico em condições normais de 70 mm e em anos atípicos, até 150 mm; enquadrando nas classificações de Pereira et. al. (2008) e Matiello et al. (2016).
Embora existam pesquisas sobre diferentes manejos de irrigação associado à ETP, objetivou este estudo apresentar resultados técnicos de produtividade com o manejo de irrigação com lâmina de água abaixo da evaporação potencial para regiões marginais e apresentar a viabilidade econômica (custo x benefício) mediante a resposta de 18 cultivares de café arábica (Coffea arábica L.) submetidos ao manejo. A viabilidade do manejo em estudo, compreende somente o custo médio de implantação de um sistema de irrigação por gotejamento e conduzido do plantio à primeira safra (30 meses).
O delineamento experimental utiliza o bloco ao caso (DBC) sendo 18 tratamentos: 8 cultivares de café arábica da Fundação Procafé; 7 do Instituto Agronômico de Campinas (IAC) e 3 da Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (EPAMIG), disposto em 4 repetições de 18 parcelas com 10 plantas cada, sendo 2 repetições conduzido sequeiro e 2 com manejo de irrigação. Os materiais foram transplantados para o campo em 31/01/2015 com espaçamento de 3,6 por 0,75 m, totalizando estande de 3.703 plantas por hectare.
A irrigação adotada desde o plantio, utiliza o sistema de gotejamento com vazão de 1,6 l.h-1, o que corresponde a 2,3 mm.h-1 de água. A metodologia para a definição dos turnos desde a implantação com o balanço hídrico de Thornthwaite e Mather (1955) com dados climatológicos locais. A colheita de cada parcela experimental ocorreu na data 01/06/2017 separando uma amostra de café por parcela de ‘’roça’’ para posterior secagem determinação da renda e produtividade.
As variáveis agronômicas avaliadas foram: Produtividade em sacas por hectare (sc.ha-1) e rentabilidade econômica do manejo adotado.
Tabela 1- Custo médio de implantação de sistema de irrigação por gotejamento na cultura do café. Fazenda Glória, São José da Bela Vista – SP, safra 2016/2017.
Referências | Custo de implantação (R$.ha-1) | |||||
Mínimo | Máximo | Média | ||||
Matiello et. al. (2016) | 7.500,00 | 11.000,00 | 9.250,00 | |||
Fernandes A.L.T. (2017) | 6.000,00 | 8.000,00 | 7.000,00 | |||
Franca-SP (2017) | 7.000,00 | 9.000,00 | 8.000,00 | |||
Média | 6.833,33 | 9.333,33 | 8.083,33 | |||
Tabela 2 – Apresentação das variáveis do balanço hídrico mensal do período de janeiro de 2015 a maio de 2017 para os tratamentos com irrigação. Valores em (mm). Fazenda Glória, São José da Bela Vista – SP, safra 2016/2017.
Tratamento | Sem irrigação | Com irrigação | |||||||||||||||
Período | Fev/15-Mai/15 | Jun/15-Jan/16 | Fev/16-Mai/16 | Jun/16-Jan/17 | Fev/17-Mai/17 | Fev/15- Mai/15 | Jun/15- Jan/16 | Fev/16- Mai/16 | Jun/16- Jan/17 | Fev/17- Mai/17 | |||||||
Chuva | 650 | 1.215 | 392 | 906 | 391 | 650 | 1.215 | 392 | 906 | 391 | |||||||
Lâmina Irrigada | – | – | – | – | – | 3 | 266 | 62 | 351,60 | 60 | |||||||
ETP | 350,2 | 841,9 | 403,4 | 780,1 | 407,1 | 350,2 | 841,9 | 403,4 | 780,1 | 407,1 | |||||||
ETR | 346 | 790 | 352,8 | 642,9 | 356,1 | 346 | 790 | 373,6 | 742 | 385,7 | |||||||
Déficit | -4,6 | -144,8 | -50,60 | -137,2 | -51,1 | -4,2 | -48,2 | -29,8 | -38,1 | -21,5 | |||||||
Excedente | 272,4 | 502,5 | 122,5 | 161,7 | 90,3 | 333,4 | 676,5 | 122,5 | 323,9 | 90,3 | |||||||
Reposição % ETP | – | – | – | – | – | 0,86 | 31,60 | 15,37 | 45,07 | 14,74 | |||||||
Tabela 3 – Resultados técnicos de produtividade do tratamento com manejo de irrigação lâmina baixa sobre tratamento sequeiro. Fazenda Glória, São José da Bela Vista – SP, safra 2016/2017.
Tratamentos | Incremento de produtividade | ||||||||||
Produtividade observada (sc.ha-1) | % | sc.ha-1 | |||||||||
Maior | Menor | Média | Maior | Menor | Média | Maior | Menor | Média | |||
Sem irrigação | 68,04 a A | 46,98 a A | 57,48 B | 39,25 | 8,65 | 19,85 | 34,03 | 5,60 | 14,65 | ||
Com irrigação | 80,87 a B | 54,83 c A | 72,13 A | ||||||||
CV 7,2% |
Tabela 4 – Resultados econômicos do tratamento com manejo de irrigação lâmina baixa sobre tratamento sequeiro. Fazenda Glória, São José da Bela Vista – SP, safra 2016/2017.
Tratamentos | Rentabilidade | ||||||
(R$/ha)1 | (R$/sc.ha-1 incrementado) | ||||||
Maior | Menor | Média | Maior | Menor | Média | ||
Sem irrigação | 30.747,27 | 21.230,26 | 25.975,21 | 15,378,15 | 2.530,64 | 6.620,33 | |
Com irrigação | 36.545,15 | 24,777,67 | 32.595,54 | ||||
CV 7,2% |
1O preço médio de R$ 451,90 para a saca de café de 60 kg refere-se ao preço líquido, bica corrida, tipo 6, bebida dura para melhor, conforme índice Esalq/BM&F referente ao mês de colheita do experimento (Julho).
Considerações Finais
O manejo de irrigação localizada, com lâmina de água abaixo da evaporação potencial apresentou-se viável tecnicamente, com ganhos significativos já na primeira safra aos 30 meses de idade; Com incrementos médios de produtividade na ordem de 19,85%, ou 14,65 sc.ha-1, em relação aos tratamentos sequeiros.
Quanto a viabilidade econômica, para as condições em estudo, mostrou-se que para o incremento médio de produtividade na ordem de 19,85% (14,65 sc.ha-1) os custos de implantação da irrigação, na primeira safra, praticamente são retornados, sendo que para o retorno integral do investimento, é necessário incrementos de produtividade a partir de 17,78 sc.ha-1; Para este caso em questão.
O trabalho vai ser continuado a fim de ser obter mais dados ao longo das safras e consolidar os resultados. Para o ano em estudo vale se ressaltar que os déficits hídricos para o período de floração não foram altos (setembro de 2016), sendo que estes percentuais de incrementos tendem a aumentar em anos com maior déficit hídricos nos meses de floração. A irrigação localizada apresenta alta viabilidade técnico-financeira na região da Alta Mogiana Paulista.