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[Davi Moscardini] – Importância dos inimigos naturais no controle do Bicho-Mineiro

Davi Moscardini

Eng. Agrônomo, Mestrando em Fitotecnia pela ESALQ/USP

 

O Bicho-Mineiro (Leucoptera coffeella) é um inseto-praga chave nos cafezais brasileiros, considerado um dos maiores problemas fitossanitários da cultura. Os danos são causados pela alimentação do parênquima paliçádico das folhas do cafeeiro pela fase larval do inseto, causando acentuada desfolha e perda de área fotossintética ativa. Isso reflete em perdas de até 50% de produtividade devido à menor síntese de fotoassimilados que seriam direcionados para a formação do endosperma do fruto.

Esta praga é desfavorecida pelas altas taxas pluviométricas, elevada umidade do ar e solos sem restrições hídricas. Em regiões de cultivo mais secas, como o cerrado mineiro e oeste baiano, a manutenção da população deste inseto abaixo do nível de dano econômico se mostra desafiadora.

O controle químico é o método mais utilizado pelos cafeicultores, principalmente com inseticidas do grupo químico das diamidas, piretróides e organo-fosforados. Em resposta a elevada pressão de bicho-mineiro nestas localidades, muitas vezes são realizadas sucessivas aplicações de inseticidas que desequilibram a população de insetos benéficos ligados ao seu controle biológico.

Principais inimigos naturais

Cerca de dezoito espécies de vespas parasitas e crisopídeos como o Bicho-lixeiro (Chrysoperla externa), estão ligados ao controle biológico do bicho-mineiro. Em algumas regiões até 30% das larvas e pupas desta praga podem ser infestadas por parasitoides. Em Minas Gerais, por exemplo, o controle por vespas sociais pode chegar a 70% e há relatos de até 90% de controle na região da Zona da Mata. Estes dados confirmam a importância da inserção do controle biológico no manejo integrado de pragas (MIP), principalmente em regiões problemáticas.

Figura 1 – Chrysoperla externa. Fase jovem é predadora de lagartas do bicho-mineiro.

 

Figura 2 – Polistes versicolor e outras vespas sociais predadoras também atuam como inimigos naturais do bicho-mineiro.

Práticas que impactam inimigos naturais do bicho-mineiro

O sucesso de um programa de controle biológico está diretamente ligado à identificação dos insetos de interesse e da adoção de medidas para manutenção e aumento destas populações. O fornecimento de locais de abrigo através da utilização de braquiária na entrelinha do cafeeiro e o uso de inseticidas seletivos são exemplos de práticas benéficas aos inimigos naturais.

Na escolha do inseticida para o controle do bicho-mineiro os piretróides devem ser evitados, pois o seu amplo espectro de ação causa morte de insetos benéficos. Outro ponto importante são os inseticidas utilizados para o controle da broca-do-cafeeiro (Hypothenemus hampei). Após a proibição do endosulfan muitos produtores estão realizando sucessivas aplicações do organofosforado clorpirofós devido a seu baixo custo e efeito de choque, porém essa prática pode resultar em sérios desequilíbrios, pois este inseticida não apresenta seletividade a nenhum inimigo natural. Uma estratégia interessante para a preservação dos insetos benéficos é a preferência pela aplicação de inseticidas sistêmicos via solo na época chuvosa. Infelizmente o controle do bicho-mineiro através de pulverizações com inseticidas certamente causa impactos negativos a diversas espécies de insetos predadores e parasitoides.

 Na cultura do café também se utiliza fungicidas cúpricos com frequência para o controle de doenças como a ferrugem, cercosporiose e mancha aureolada. É importante frisar, porém, que o uso indiscriminado de oxicloreto de cobre e cúpricos em geral tem mostrado efeito deletério em vespas predadoras e causado aumento de até 60% na população de bicho-mineiro.

Conclusão

Apesar dos entraves práticos, é muito desejável a utilização de produtos menos tóxicos ao complexo de inimigos naturais do bicho-mineiro. Os inseticidas não seletivos devem ser utilizados com parcimônia e em casos de infestações sérias, com consciência dos possíveis desequilíbrios.

No futuro talvez possam ser identificadas espécies com potencial de reprodução em laboratório, para que áreas com baixa população de inimigos naturais possam ser enriquecidas, como o caso de sucesso do controle biológico da broca da cana-de-açúcar através de himenópteros parasitoides.

No presente momento a alternativa é evitar ao máximo práticas danosas aos inimigos naturais para que estes sejam preservados e aproveitados como  mais uma ferramenta no controle do bicho-mineiro.

REFERÊNCIAS

PARRA, J. R; REIS, P. R. Manejo integrado das principais pragas da cafeicultura, no Brasil. Visão agrícola, n°12. Piracicaba, 2013, p.47.

PAULINI, A. E.; MATIELLO, J. B.; PAULINO, A. J. Oxicloreto de cobre como fator de aumento da população do bicho-mineiro do café (perileucoptera coffeella – Guer. Mèn., 1842). In: CONGRESSO BRASILEIRO DE PESQUISAS CAFEEIRAS, 4., 1976, Caxambu. Resumos… Caxambu, 1976. p.48-49.

TUELHER, E. S.; OLIVEIRA, E. E.; GUEDES, R. N. C.; MAGALHÃES, L. C. Ocorrência de bicho-mineiro do cafeeiro (Leucoptera coffeella) influenciada pelo período estacional e pela altitude. Acta Scientiarum: Agronomy, Maringá, v. 25, n. 1, p. 119-124, 2003.

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