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[Cristiane Lourenço] – Do campo à xícara: comércio de café no Brasil tem como aliado o uso de inovação digital e economia compartilhada

CRISTIANE LOURENÇO
Gerente de Relacionamento com a Cadeia de Alimentos
da Bayer para a América Latina.

A agricultura é a menina dos olhos do Brasil. Cinco milhões de fazendeiros, trabalhando com dedicação e garra, fizeram do país o maior produtor de carne e grãos da América Latina. Para se ter ideia, o setor é responsável por ¼ do Produto Interno Bruto do país e um dos maiores exportadores de alimentos para o mundo, com destaque para o mercado europeu e chinês.

Vamos voltar um pouquinho no tempo. Em 1720, chegaram ao Brasil as primeiras mudas de um grão que mudaria, e segue mudando, a história do país. Cerca de 300 anos depois, somos mais de 300 mil produtores de café e, atualmente, o maior produtor da bebida no mundo, sendo que um entre três copos consumidos foram feitos no país.

Além de sermos o maior produtor, somos também os maiores apreciadores desta bebida no mundo. Realmente adoramos um bom cafezinho. Temos nas mãos um grão mágico com potencial incrível de crescimento no mercado interno.

E para acompanhar toda essa história, com a mudança dos hábitos da sociedade, no campo não tem sido diferente. A produção rural está se transformando e, hoje, o cafeicultor tem à sua disposição ferramentas digitais para apoiar a tomada de decisões no nível da fazenda. A próxima onda dessa tendência é uma revolução online na forma como ele é comercializado, em plataformas virtuais utilizando tecnologias como o blockchain.

Atualmente se tem um perfil de agricultor mais jovem, conectado e digitalizando as propriedades rurais. Na outra ponta, há um novo consumidor, online, antenado, que está mudando e buscando práticas responsáveis na produção, além de um café com mais qualidade, conhecimento da origem do grão e a história do que está consumindo. Aqui, a rastreabilidade é fator decisivo.

Temos de um lado o produtor querendo comercializar seu café, levar ao consumidor final o grão de qualidade e sustentável e, em contrapartida, um cliente que não consegue chegar até o produto que deseja. Portanto, existe um enorme gap nessa cadeia que ocorre devido a grande quantidade de players intermediários.

Para solucionar essa lacuna, a Bayer desenvolveu a plataforma Made In Farm. Quando criamos esse projeto, nosso objetivo era, desde o início, elaborar uma forma de usar a tecnologia digital e a economia compartilhada para conseguir conectar as duas partes interessadas: agricultor e consumidor.

A ideia do Made in Farm começou em meados de 2015 e o principal propósito foi criar um espaço que conectasse todos os agentes importantes da cadeia, tornando o mercado mais justo, transparente e que possibilitasse dar oportunidade para todos os agentes.  O estudo para a viabilidade desta iniciativa durou cerca de dois anos. Em 2017, lançamos a plataforma digital.

Considerada inovadora em marketplace de café, a plataforma atua na venda de grão verde, in natura, e especiais, já processados. A primeira funciona do seguinte modo: compradores e produtores enviam propostas para o site, que combina as demandas e faz a conexão. A partir disso, a negociação é feita diretamente entre os dois de forma transparente.

Já no caso de cafés torrados, moídos e em cápsulas, o produtor cadastra seus produtos no site, onde pessoas físicas, restaurantes e cafeterias podem comprar diretamente de forma simples. Em alguns dias, o produto vai da fazenda para o comprador, com toda segurança. Para avaliar a confiabilidade, todos que participam podem analisar os negociantes e compradores.

Além de levar produtos de qualidade para consumidores de todo o Brasil, o Made In Farm conta a trajetória e diferenciais de todos os produtores, comercializando cafés com história. Ademais, na plataforma, produtores compartilham os custos da operação e com isso, aplicamos o conceito de economia compartilhada, vital para a sociedade moderna.

Trabalhar colaborativamente leva o mercado ainda mais longe. Desde 2017, o Made In Farm tem conectado o Brasil produtor, comerciante e apreciador de café, sendo que 85% dos estados do país participam de alguma forma do processo. Aproximadamente 13 milhões de pessoas já estão conectadas, 150 compradores, dentre eles traders, torrefadores, indústrias, restaurantes e cafeterias já participam conectados a mais de 240 cafeicultores cadastrados.

Mais do que um e-commerce, o Made In Farm é uma prática inovadora que busca aproximar o campo da cidade, humanizando o agronegócio, contando a história de quem se dedica à agricultura e mostrando que o cuidado com a lavoura também resulta no cuidado com o consumidor final.

Eu acredito que a tecnologia digital será o futuro, principalmente na comercialização e na conexão para gerar mais clareza na cadeia de valor entre produtores e consumidores. Os novos canais virtuais podem ajudar agricultores e compradores de café em qualquer país a se conectarem diretamente e criar novas oportunidades de mercado. Além disso, permite-se mais transparência, com novas conexões para conhecer as histórias e como o café foi produzido.

Recentemente, fui convidada para apresentar no Specialty Coffee Expo, evento mais importante sobre todos os aspectos da cadeia da cafeicultura mundial, nossa experiência. Na apresentação e em conversas com interlocutores do setor, pude perceber que o mundo do café tem voltado as atenções e esforços para conectar fazendeiros aos consumidores por meio da economia compartilhada e da inovação digital e nesse momento crucial nossa plataforma tem sido referência.

Atualmente, o Made in Farm está focado no mercado brasileiro. Porém, já com olhares fitando o futuro, há possibilidade de expansão da plataforma para outras regiões do mundo. Queremos difundir e fazer conhecido cada vez mais, de forma simples e colaborativa, o sabor e aroma brasileiro que cultivamos e apreciamos.

 

FONTE: Jaqueline Braz – WEBER SHANDWICK
jbraz@webershandwick.com

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