O melhoramento genético é um processo dinâmico, contínuo, e que deveria ser conduzido em todas as fazendas, independentemente da produtividade do rebanho. Em um rebanho rústico, de baixa produtividade animal, primeiramente, faz-se necessário avaliar o sistema de produção e determinar os principais gargalos da eficiência produtiva do rebanho.
Posteriormente, é importante determinar quais as estratégias que garantirão ao produtor aumentar o retorno financeiro com a atividade leiteira, ou seja, a lucratividade da propriedade. Um aspecto fundamental diz respeito à capacidade de lotação das pastagens e de produção de alimentos na propriedade, influenciando diretamente os custos de produção. Do ponto de vista do melhoramento genético de um rebanho rústico, há várias alternativas disponíveis. Pode-se sugerir o uso de uma, ou a combinação de mais de uma das alternativas a seguir:
a) – Fazer descartes seletivos das vacas no próprio rebanho. Esses descartes devem ser baseados no desempenho produtivo e reprodutivo, conformação funcional (aprumos, úberes, etc.) e suscetibilidade a doenças. Esse é um processo de baixo custo, porém, lento. Mas, uma vez associado às sugestões dos itens “b” e/ou “c”, permite um melhoramento contínuo e rápido do rebanho. Uma boa proposta para auxiliar na tomada de decisões de descarte é iniciar o processo observando e avaliando o desempenho produtivo. Pode-se dividir os animais em cinco lotes, cada um deles formado por 20% das vacas: 196
- Lote 1 – Vacas ótimas, de maior produção.
- Lote 2 – Vacas boas, de produção pouco inferior às ótimas.
- Lote 3 – Vacas de produção média.
- Lote 4 – Vacas de menor produção.
- Lote 5 – Piores vacas do rebanho, com menor produção de leite.
De imediato, deve-se eliminar o lote 5, e talvez (ou posteriormente), o lote 4, pois isso depende de cada caso (de acordo com a proporção de animais a serem eliminados). Nos lotes 1, 2 e 3, devem-se avaliar os demais aspectos (infertilidade, perda de tetos, aprumos defeituosos, ocorrência de mastite, idade, etc.) para definição das vacas de descarte. Com os recursos obtidos com a venda do descarte, o produtor pode comprar umas poucas vacas (ou bezerras e novilhas) mais produtivas e que possam compor o lote número 1.
Adotadas essas sugestões e realizadas as melhorias no manejo nutricional e sanitário, certamente o produtor elevará a média de produção de leite, pois vacas melhores entrarão no rebanho, e aumentará a oferta de pasto para as vacas que ficaram na fazenda. Devem-se reter todas as bezerras filhas das vacas dos lotes 1 e 2, como opções para futuras reposições no rebanho, desde que observados os aspectos discutidos anteriormente. Esse esquema deve ser repetido a cada ano.
Para adotar o esquema proposto, é essencial que o produtor conheça a produção de leite de cada uma das vacas de seu rebanho. Isso só poderá ser feito se o produtor anotar alguns dados zootécnicos, como a data do parto e a data da secagem da vaca, e se medir a produção de leite pelo menos uma vez por mês, até o encerramento da lactação de cada vaca.
b) – Utilizar touros melhoradores, de raças especializadas na produção de leite, e reter todas as filhas desses animais. Com o uso de touros de genética no rebanho rústico, a tendência é que as filhas sejam mais produtivas do que as mães. Esse é um processo mais lento e que requer confiança e conhecimento sobre o mérito 197 genético do rebanho de origem dos touros e recursos para manutenção dos mesmos na propriedade.
c) – Usar inseminação artificial (IA) com sêmen de touros provados e reter todas as filhas que apresentem bom desenvolvimento e precocidade reprodutiva, com a opção de usar sêmen sexado de fêmea, o que garantiria maior percentual de nascimento de fêmeas. Essa é uma sugestão que exige domínio da técnica de IA e maior investimento inicial, mas que permite o melhoramento genético mais seguro e rápido, além da redução do número de touros na propriedade, e, consequentemente, dos custos de manutenção.
d) – Podem-se comprar algumas vacas de alta lactação e de boa qualidade genética e usá-las como doadoras de embriões. Nesse caso, será necessário usar técnicas de Transferência de embriões (TE), com o uso ou não de Fertilização in vitro (FIV) e Produção in vitro de embriões (Pive), usando as fêmeas do próprio rebanho como receptoras. Essa sugestão é ainda mais cara, e exige a assistência técnica de profissionais especializados. Ainda será preciso fazer mudanças na alimentação e no manejo dos novos animais, na saúde dos animais, na mão de obra, etc., mas os resultados são melhores, com maior progresso genético.
FONTE: Embrapa Gado de Leite