Foram três anos de pesquisa com a participação da Unesp e UFSCar para levantar os fatores que causam a perda de colmeias no Estado de São Paulo.
Os resultados de três anos do Colmeia Viva® MAP (Mapeamento de Abelhas Participativo), iniciativa de pesquisa com a participação da Unesp e UFScar para o levantamento de dados sobre a mortalidade de abelhas com um mapeamento inédito dos fatores que contribuem para a perda de colmeias e abelhas no Estado de São Paulo, permitem conclusões para um plano de ação nacional voltado às boas práticas de aplicação de defensivos agrícolas para uma relação mais produtiva entre agricultura e apicultura.
No período de agosto/2014 a agosto/2017 foram 222 atendimentos voltados aos agricultores e criadores de abelhas, sendo 107 visitas ao campo, onde foram analisadas as práticas agrícolas (cultivos do entorno, taxa de dependência de polinização, estágio da cultura, histórico e modalidade da aplicação de defensivos agrícolas, autorização e condições de uso para defensivos agrícolas) e práticas apícolas (alimentação suplementar, troca anual de rainha, quantidade de caixas por apiário, frequência de visitação, localização do apiário e pasto apícola).
Das 107 visitas realizadas, 88 possibilitaram coleta de abelha com uma análise mais focada na relação da agricultura e apicultura e a aplicação de defensivos agrícolas. Deste total de coleta, 29 casos resultaram negativo para resíduos de produtos químicos e 59 casos positivo para resíduos de produtos químicos.
Foram atendimentos de mortalidade de abelhas. Não foram observados sinais da Síndrome do Desaparecimento das Abelhas (CCD) como os sintomas característicos de colmeia desorganizada, com sujeira e completamente abandonada ou declínio da população de abelhas com desaparecimento repentino das operárias e enfraquecimento das colônias sem a presença de abelhas mortas. Fenômeno registrado principalmente no hemisfério norte, somente com abelhas Apis mellifera.
Dos 59 casos positivos para resíduos químicos, 27 atendimentos dos registros de mortalidade de abelhas indicaram uso dos produtos sem relação direta com o controle de pragas indicado para as lavouras, com suspeita de uso fora da lavoura, como por exemplo: criação de gado, abelhas visitando a área de alimentação de bovinos (em busca de água ou alimento), controle de carrapatos em região de criação de cavalos ou mesmo controle de formigas e cupins pelo apicultor, através da aplicação de produtos químicos – tanto nas caixas como no entorno do apiário. Já em 21 atendimentos, houve uma relação direta de aplicação incorreta de defensivos agrícolas nas lavouras. Entre as práticas de uso incorreto de defensivos agrícolas que estão entre as causas que podem provocar a perda de abelhas destacam-se: dosagens acima das recomendações indicadas em rótulo e bula; falta do cumprimento das exigências legais para a aplicação de defensivos agrícolas com vistas à proteção ao cultivo nas modalidades aprovadas (aérea ou terrestre); falta de formalização do pasto apícola; emprego incorreto da modalidade de aplicação sem a autorização ou registro de produtos para cultura agrícola.
A metade dos casos com resíduos químicos associados ao uso incorreto na lavoura tem a presença de inseticidas do grupo químico dos neonicotinóides (11 casos) com foco na cultura de cana-de-açúcar. Vale ressaltar também que são estes casos em que há relação com pulverização aérea: uma prática autorizada para este cultivo de acordo com as orientações de cada produto em suas bulas. Já 10 casos de uso incorreto na lavoura estão associados ao inseticida do grupo químico pirazol, sem relação com pulverização aérea, tratando-se de casos em cana, laranja, café e eucalipto.
Já os casos com suspeita de uso incorreto fora da lavoura tem a presença majoritária de inseticida do grupo químico pirazol, dentre eles um caso associado com fungicida do grupo químico triazol e outro com o inseticida do grupo químico organofosforado.
Os demais 11 atendimentos representam análises inconclusivas, uma vez que apesar de ter sido detectada mortalidade acima do normal, não foi possível concluir sobre os fatores causadores de perda das abelhas, em decorrência do estado de decomposição das abelhas mortas e do tempo transcorrido para análise nas abelhas.
Já entre os casos em que os resultados de resíduos foram negativos (29 casos), é possível considerar que algumas práticas apícolas podem estar também relacionadas a questão de enfraquecimento e aumento da suscetibilidade das abelhas, tais como a falta de alimentação suplementar (quase 70% dos casos); a falta de troca anual de rainha, como recomendado (quase 80% dos casos), o limite de caixas por apiário acima de 50 caixas como recomendado (quase 45% dos casos); a baixa frequência de visitação aos apiários, cuja recomendação mínima é semanal (quase 25%) e a instalação de apiários próximos a culturas, quando a recomendação é um limite com distância mínima de 50 metros fora das plantações e 20 metros para dentro da mata.
Abrangência da pesquisa no Estado de São Paulo
Foram 78 cidades atendidas pelo projeto de pesquisa em 3 anos. No terceiro ano, foram quase 60 novas cidades, o que mostra a ampliação e abrangência do projeto de pesquisa no Estado de São Paulo.
Polinização na agricultura
Culturas dependentes da polinização animal (incluindo as abelhas) contribuem com 35% do volume de produção mundial de alimentos, representando 5% a 8% em valor da produção mundial. Esse dado faz parte do relatório de avaliação divulgado em 2016 pela Plataforma Intergovernamental de Serviços Ecossistêmicos e Biodiversidade (IPBES), uma organização independente aberta a todos os países membros das Nações Unidas para avaliar o estado da biodiversidade do planeta, seus ecossistemas e os serviços essenciais que prestam à sociedade sobre Polinizadores, Polinização e Produção de Alimentos.
O conceito de dependência de polinização na agricultura está ligado a quanto certo cultivo depende da polinização para alcançar todo o seu potencial produtivo, não só em quantidade, mas em qualidade também. Cultivos dependentes de polinização por abelhas, se não são polinizados, podem ter uma redução na produção de 40% a 100%. Cultivos beneficiados pela polinização podem perder entre 10% e 40%. Já os cultivos não dependentes de polinização, não são muito afetados pela visita de abelhas. Neste sentido, é importante ressaltar que os casos registrados na amostra da pesquisa não são de serviços comerciais de polinização na agricultura (prática de aluguel de colmeias), exceção de um caso na fase piloto na cultura do abacate com a presença de abelhas para o serviço de polinização do cultivo. Neste caso não havia resíduo de defensivos. Os casos registrados foram de abelhas criadas para fins de apicultura, que é uma atividade econômica de extração do mel e outros produtos apícolas para consumo pelo homem.
Boas Práticas Agricultura-Apicultura
Diante dos resultados da iniciativa de pesquisa, as prioridades de atuação do setor de defensivos agrícolas estão na implantação de um Plano Nacional de Boas Práticas Agricultura-Apicultura via Plataforma Digital que possibilite o diálogo, firmando parceria com pelo menos uma entidade representativa de agricultura, apicultura e aplicação de defensivos nas áreas-foco estabelecidas no Compromisso 2020, que são os estados de os Estados de São Paulo, Rio Grande do Sul, Paraná, Santa Catarina e Mato Grosso do Sul até o final de 2018 e os estados de Mato Grosso, Minas Gerais, Bahia e Goiás até o final de 2019.
A liderança do Colmeia Viva®, Paula Arigoni, destaca as contribuições do cenário qualitativo encontrado nos três anos da iniciativa de pesquisa. “A amostragem dos três anos mostra que há casos de uso incorreto na lavoura e fora da lavoura também, o que apareceu como maioria dos casos positivos para resíduos químicos. Além disso, 29 das 88 amostras indicaram resultados negativos para resíduos, mesmo numa etapa do projeto de pesquisa focada especificamente nesta análise, podendo estar relacionadas com a questão de enfraquecimento da colmeia, aumento da suscetibilidade das abelhas e à falta de práticas apícolas profissionais. Todas essas informações já deram subsídios para produzir um Manual de Boas Práticas com mais de 70 dicas e práticas agrícolas e apícolas, o que inclui técnicas amigáveis às abelhas, incentivo de visitação de abelhas nas culturas agrícolas, localização segura para a instalação de apiários, medidas de proteção dos apiários, manejo apícola e fontes de alimentação e comunicação entre apicultores e criadores de abelhas.
A publicação está disponível em http://projetocolmeiaviva.org.br/BoasPraticas.pdf Além disso, seguimos com um plano nacional de boas práticas que contribua com mudanças positivas no campo em todo País”, ressalta Paula.
Além do Manual, a implantação do Colmeia Viva® Plano Nacional de Boas Práticas conta com o apoio de algumas iniciativas, tais como Colmeia Viva® Assistência Técnica: uma linha direta que esclarece dúvidas e compartilha as boas práticas para a prevenção e mitigação da mortalidade de abelhas. Atende agricultores, criadores de abelhas, aplicadores de defensivos agrícolas, distribuidores, revendedores e equipes de vendas das empresas signatárias do Movimento Colmeia Viva. 0800 771 8000. O Colmeia Viva® Boas Práticas Boas Práticas: Linha de treinamentos em campo e à distância sobre boas práticas para uma relação mais produtiva entre a Agricultura e a Apicultura. Os treinamentos são exclusivos para agricultores e criadores de abelhas, que podem ser realizados preventivamente ou na mitigação após constatação de incidentes com abelhas. Colmeia Viva® App: Ambiente digital para facilitar o diálogo entre agricultores e criadores de abelhas. Agricultores podem identificar as áreas de sobreposição de atividades agrícolas e apícolas e avisar quando vão ocorrer as pulverizações (aplicadores de defensivos serão incluídos em uma segunda etapa). Criadores de abelhas podem receber os comunicados de aplicações e saber quais medidas de proteção devem tomar e o Colmeia Viva® EAD: Plataforma digital de ensino à distância que centraliza todo o conteúdo sobre a interação Defensivos-Agricultura-Apicultura-Abelhas, permitindo mais abrangência, mobilidade e agilidade na chegada da informação ao campo.
Sobre o Colmeia Viva®
O Colmeia Viva® é uma realização do setor de defensivos agrícolas sob a governança do Sindicato Nacional das Indústrias de Produtos para Defesa Vegetal (SINDIVEG) que tem por objetivo incentivar o diálogo entre agricultores e criadores de abelhas para encontrar caminhos para uma relação que valorize: a proteção racional dos cultivos; o serviço de polinização realizado por abelhas; a proteção das abelhas e do meio ambiente e o respeito à apicultura. A missão é promover o uso correto de defensivos agrícolas na agricultura brasileira para proteger os cultivos e contribuir no direito básico de alimentação das pessoas, respeitando a apicultura, protegendo as abelhas e o meio ambiente. Em 2017, empresas do setor de defensivos agrícolas assinaram um compromisso público com metas até 2020. Mais informações sobre o Colmeia Viva® suas bandeiras de prioridades, metas, princípios e iniciativas estão disponíveis em www.colmeiaviva.com.br
Fonte: Viviane Rodrigues – Facto Estratégia e Comunicação