Com baixa ocorrência de chuvas, a Serra do Cabral na região centro-norte de Minas vêm atraindo grandes cafeicultores.
A Serra do Cabral – na região centro-norte de Minas – confirma sua vocação para a cafeicultura. Na semana passada, mostramos os investimentos do grupo Cedro em três grandes fazendas da região com perspectiva de colher 200 mil sacas do grão nos próximos anos. Agora, do lado oposto do platô da Serra, encontramos outro grande empreendimento, voltado para a produção de café em larga escala e com alta qualidade.
É a Ecoagrícola, uma fazenda recentemente adquirida por uma empresa familiar, que nasceu em meados dos anos 70, pelas mãos do produtor rural e patriarca da família Veloso, de Carmo do Paranaíba (MG): Pedro Humberto Veloso.
“Meu pai ingressou na cafeicultura em 1977 com um pequeno sítio de café. De lá pra cá, crescemos bastante, aproveitando as oportunidades de mercado. Hoje, somos um dos produtores de café com maior escala de produção do país. Também somos pioneiros no uso da tecnologia de irrigação e outros manejos, exportamos nosso próprio café, através da Veloso Coffee, empresa fundada por meu pai em 1990”, conta Pedro Henrique Lima Veloso.
É ele, filho do meio de Pedro Humberto, quem comanda a Ecoagrícola ao lado de três irmãos e em sociedade com um grupo estrangeiro. Pedro acredita que a região já possa, de fato, ser considerada uma ‘nova fronteira agrícola’. E mais do que isso, na opinião dele, a ocupação representa uma ‘quebra de paradigma’ porque plantar café no Norte de Minas sempre foi um tabu, pelo fato de ser uma região quente, com déficit hídrico; acesso crítico à mão de obra e deficiências no fornecimento de energia.
“Estamos superando um a um, todos esses obstáculos e agregando valor a uma terra desacreditada para a cultura do café”, pontua Pedro.
O empresário conta que visitou a Serra, pela primeira vez, em 2010, época que ela ainda era pouco conhecida e pouco explorada, sem energia elétrica e sem nenhuma propriedade bem estruturada. “Havia apenas silvicultura, eucalipto e pinus”, rememora.
Além disso, segundo ele, os poucos proprietários de terras não estavam com apetite para investir e correr riscos. “Acabei ficando muito próximo de alguns deles e mantivemos o contato, trocando figurinha, conversando… Dois deles já haviam implantado o primeiro pivô de café, mas ainda não conheciam o resultado da bebida, da produtividade das plantas e de como seria a adaptação da cultura na região”, conta.
Ao longo de dez anos – de 2010 a 2020 – Pedro acompanhou a trajetória dessa família e viu a fazenda conquistar a certificação Rainforest, implantar cinco pivôs, colher os primeiros cafés; exportar e ganhar alguns prêmios de destaque internacional, como o Prêmio de Qualidade da Illy e o prêmio de sustentabilidade da Rainforest, que é um Prêmio referência da Sustentabilidade .“Além disso, eles foram finalistas algumas vezes do prêmio Cup of Excellence e eu sempre acompanhei e torci muito por eles”.
Em dezembro de 2020, Pedro e sua família compraram a propriedade que é, hoje, a Ecoagrícola. De lá pra cá, eles já plantaram mais 1950 hectares de café irrigado com o sistema de gotejo, gerando 332 empregos diretos e chegando a ter 770 empregos entre os fixos e os temporários no período de plantio. “Vamos colher no próximo ano, alguma coisa entre 60 a 65 mil sacas de café. Temos o projeto de atingir algo em torno de 230/250 mil sacas de café até 2030”, revelou.
CAFÉ SÓ TEM PORTA DE ENTRADA
“Tenho uma trajetória de 40 anos na cafeicultura, ou seja, desde que nasci. Como se diz por aí, eu cresci embaixo de um pé de café. E café só tem a porta de entrada…não tem a de saída porque é uma paixão”, diz Pedro. Ele conta que na infância adorava ir para a fazenda nas férias e ficar de olho na evolução dos processos, no funcionamento do maquinário e no que os técnicos e agrônomos estavam fazendo, demonstrando muito cedo, sua afinidade com o universo e seu espírito empreendedor.
O empresário gosta não só de tudo o que envolve o cultivo do café, mas também de tomar café. Ele é um grande apreciador da bebida e mais ainda da convivência positiva com os vizinhos que o café possibilita, da troca de experiências e do dedo de prosa nos finais de tarde. “Café é bom demais”, derrete-se.
Outra vantagem, segundo ele, é que a cultura abre portas do mercado internacional, ajudando a entender os desafios dos outros países, as relações de consumo e as adversidades culturais. “Tudo isso explica minha paixão. Eu tomo café o dia todo… e também é uma delícia provar o café do vizinho, ver o que ele está fazendo de bom, ver o que você pode aprimorar na sua lavoura. Tudo isso reforça minha paixão e proximidade com a bebida”.
No início desse mês, ele e sua equipe tiveram uma boa notícia: conquistaram o 7° lugar na categoria natural, e o 2° lugar na categoria “Experimental” no concurso Cup Of Excellence, da Brazil Specialty Coffee Association (BSCA), um bom sinal de que estão no caminho certo.
FONTE: Maria Teresa Leal / Itatiaia