ANA MARIA PRIMAVESI
Engenheira Agrônoma, nascida e formada na Áustria em 1920. Foi a primeira agrônoma a afirmar que o solo tem vida. Durante seu período de faculdade a Europa enfrentava a 2ª Guerra Mundial e ela persistiu em seus estudos, determinada a estudar o solo, sua grande paixão. Casou-se com Artur Primavesi ainda na Áustria e o casal imigrou para o Brasil, onde viveram em Minas Gerais, São Paulo e Rio Grande do Sul. Ícone da Agricultura Ecológica, escreveu o livro que seria o divisor de águas na compreensão da prática natural da agricultura: “Manejo Ecológico do Solo”. Além desse, outros livros foram publicados e que foram relançados pela Editora Expressão Popular (https://www.expressaopopular.com.br/)
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O mais importante no solo tropical é sua cobertura. O solo deve ser sempre coberto ou pela vegetação ou pela palha do cultivo anterior. Para evitar que o solo fique limpo e exposto, deve-se plantar uma adubação verde multiflora, quer dizer, composta de 5 a 8 diversas espécies de plantas.
Em cultivos com espaçamento largo, deve-se considerar a consorciação. Em cafezais ou pomares como de citrus, as entrelinhas sempre devem estar com sua vegetação de modo que possam ser roçadas de vez em quando, jogando a massa verde sobre as faixas de plantio.
Nunca se devem retirar os restolhos e palha do cultivo anterior do campo agrícola porque a vida do solo necessita de alimentação. As bactérias que vivem da decomposição de matéria orgânica são benéficas. Elas tiram sua energia do carbono da matéria orgânica. Entre estas, encontram-se também as bactérias que agregam o solo. Se um torrão de terra se rompe e apresenta as faces lisas, é certo que recebeu pouca ou nenhuma matéria orgânica. Então, o solo decai.
Existem bactérias anaeróbias que tiram sua energia da transformação de ligações de minerais como o Thiobacter, Nitrobacter, etc. Estes são capazes de transformar nutrientes em substâncias tóxicas, como o trióxido de enxofre (SO3) em gás sulfídrico (H2S), gás carbônico (CO2) em metano (CH4), manganês nutritivo (Mn3+) em manganês tóxico (Mn2+) e etc., que, em sua maior parte, não beneficiam as plantas. Mas existem bactérias fotossintéticas que tiram sua energia vital, cindindo a água em presença de luz (360 calorias) e que fixam nitrogênio. Há fixadores de nitrogênio que vivem em simbiose com as raízes, como nas leguminosas e outros que têm vida livre, como o Azotobacter, quando dispõem do açúcar formado pelos decompositores de palha como alimento.
Existem algas verde-azuladas ou Cianófitas, que fotossintetizam sua matéria orgânica e que fixam, em parte, o nitrogênio. E, finalmente, há as bactérias que são parasitas de plantas quando estas estão deficientes em algum nutriente e que fixam nitrogênio para a planta quando está bem nutrida como, por exemplo, Pseudomonas, que atacam o fumo quando lhes falta potássio.
Há bactérias muito importantes como: as celulolíticas, que produzem uma espécie de geléia e ácidos poliurônicos, os quais estabilizam os agregados formados por atração química e agregados maiores.
Os agregados do solo que formam os poros por onde entram ar e água somente têm estabilidade durante 2 a 3 meses. Eles precisam ser protegidos pela vegetação ou por uma camada de palha e recuperados depois da colheita. Por isso, a matéria orgânica deve ser fornecida ao solo periodicamente. Sua função principal não é fornecer nutrientes ou nitrogênio, mas agregar o solo e formar poros. Sem os poros, a água da chuva escorre, há erosão e enchentes, mas, por outro lado, o nível freático não é mais abastecido: secam os poços, cacimbas e rios. Para conservar nossa água potável, necessitamos de matéria orgânica na superfície dos solos. Portanto, a matéria orgânica nunca deve ser enterrada.