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[Afonso Peche Filho] – Considerações sobre Agricultura Sustentável

AFONSO PECHE FILHO
pesquisador científico do Instituto Agronômico de Campinas – IAC

 

A agricultura sustentável pode ser definida como uma parte do desenvolvimento econômico que leva em consideração os aspectos relacionados com o bem estar da sociedade e dos ecossistemas locais. Um ponto fundamental da agricultura sustentável é sua essência econômica influenciada pelos fatores ambientais e sociais e acima de tudo o respeito por todas as formas de vida. No âmbito da ecologia, a agricultura sustentável pode ser definida como uma condição que mantem-se no tempo por si mesmo, com renda, sem erosão, sem compactação e sem degradação. É uma condição de alta resiliência e supressividade, repleta de biodiversidade. Com ajuda tecnológica potencializa a produção sem comprometer ou dar origem à escassez dos recursos naturais existentes.

A agricultura praticada de forma convencional na realidade não pode ser considerada sustentável. Tem como referência um forte sentido utilitário da natureza, da terra, da água, das plantas e do homem. Ocorre numa economia voltada para o lucro rápido e para o tecnicismo de consumo em detrimento de outras formas de vida. A agricultura convencional trouxe inúmeros avanços tecnológicos, mas também trouxe uma certeza: hoje, temos muitos problemas ambientais. Desta forma, condena nosso futuro ao trazer mais incertezas e nos distancia da responsabilidade para com as gerações futuras.

Não é sustentável estimular uma agricultura somente para aumentar a produção e relegar a manutenção das condições de perenidade produtiva a um ponto inferior de prioridades. É insustentável produzir ao mesmo tempo em que compromete a capacidade produtiva e a rentabilidade da área. Assim a competitividade é predatória do seu próprio sistema produtivo, deixando cada vez mais comprometida a sobrevivência do agricultor. Usar “tecnologia de ponta” e passivamente conviver com a degradação das terras traz desequilíbrios difíceis de serem corrigidos. A terra degradada não some, quem some é o agricultor que “quebra” e sai do mercado.

Na busca da agricultura sustentável o primeiro passo pratico é a autocrítica. É necessário desenvolver a capacidade de avaliar criticamente os resultados financeiros, ambientais e sociais. A autocrítica é feita por meio da análise de cenários e dos fatos, das formas que utiliza a tecnologia, de reconhecer erros e identificar possibilidades de correção. A partir da reflexão, podemos rever e mudar nossas posições sobre decisões na vida pessoal ou profissional. Tudo isso, contribui com a qualificação do agricultor para praticar utilização adequada de ecossistemas, terras, tecnologias e recursos humanos. Habilitação para a prática da sustentabilidade.

O segundo passo, é a disposição de rever as formas de ocupação e uso das terras. Décadas após o desmatamento as áreas agrícolas continuam sendo preparadas no modelo tradicional de produção. O solo sofre uma espécie de metamorfose degradativa progressiva correndo o risco de apresentar sérios problemas resultantes do mesmo desenho de ocupação (estradas, carreadores, caminhos, linhas de tráfego); sofre também acumulação dos efeitos negativos em função do uso e exposição contínua ao sol e as chuvas. Atualmente em muitas propriedades agrícolas é possível visualização de “cicatrizes de erosão” como também, visualizar muitos pontos de empoçamento. Não é difícil encontrar estradas ou caminhos “encaixados” no leito acumulando escorrimento erosivo.

A agricultura sustentável preconiza uma intervenção comercial mais equilibrada e com mecanismos de autocontenção. São criadas condições de menor agressão e proteção ao solo, de proteger mananciais e fragmentos florestais além de potencializar a biodiversidade. São desenvolvidas condições para reduzir a dependência do uso indiscriminado de agrotóxicos e fertilizantes químicos e de efetivamente otimizar o potencial genético das plantas cultivadas.

O produto da agricultura sustentável é a construção de “ambientes produtivos” e não “ambientes degradados”. Não existem terras agrícolas somente com valor utilitário e sim de terras cultivadas para a vida. A biodiversidade em equilíbrio, ativa e protege a rentabilidade e a longevidade dos agricultores. A agricultura sustentável conduz para o caminho de uma sociedade mais humana e um futuro com certeza de equilíbrio e mais renda.

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