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Instituto Biológico identifica resposta imunológica diferente da toxoplasmose em cepas do protozoário do Brasil e da Europa

Pesquisa desenvolvida pelo Instituto Biológico (IB-APTA), da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, mostrou que populações com variabilidade genética do protozoário causador da doença toxoplasmose do Brasil e da Europa geram respostas imunológicas diferentes nos hospedeiros. O resultado da pesquisa pode auxiliar na compreensão e estabelecimento de futuros protocolos de tratamento e prevenção da enfermidade, que ocorre em diversos tipos de animais, como aves, suínos e ovinos. A doença também é considerada uma zoonose, ou seja, afeta os seres humanos.

O estudo foi conduzido pelo Instituto Biológico em conjunto com a Universidade de São Paulo (USP) e o Moredun Research Institute, da Escócia. Seus resultados foram publicados em um artigo na revista científica internacional Parasitology.

“Fomos escolhidos pela editora Cambridge como o artigo científico do mês. Considero que isso reflete o potencial da pesquisa brasileira e mostra que as informações produzidas pelos pesquisadores têm boa aceitação na comunidade científica internacional”, afirma Daniela Pontes Chiebao, pesquisadora do IB e líder do estudo. Os resultados foram comentados de forma acessível no blog da Cambridge. “Isso ajuda a popularizar os avanços, aumenta o fator de impacto do grupo de pesquisa e abre portas para novas colaborações”, diz.

Para se chegar a essa conclusão, os pesquisadores testaram três isolados do protozoário Toxoplasma gondii em camundongos, que possuem sistema imunológico parecido com os mamíferos e podem ser usados como referência para seres humanos e animais de criação. Duas cepas utilizadas são comuns no Brasil e uma na Europa.

A partir daí, os cientistas encontraram respostas imunológicas diferentes entre os grupos avaliados. Foi identificado que uma das cepas encontradas no Brasil causa a doença grave, com infecção generalizada e uma produção grande e rápida de substâncias que aumentam a resposposta imunológica a um nível perigoso, sem autorregulação.

“A segunda cepa, também do Brasil, causa sintomas mais leves e os ratos podem sobreviver à infecção. Verificamos que neste grupo o parasita se instalou em vários órgãos, mas a resposta imunológica foi equilibrada, ocorrendo um pouco mais tarde e controlando a infecção”, explica Daniela.

A terceira cepa, comum da Europa, não afetou os camundongos clinicamente, mas, assim como a segunda cepa brasileira, se desenvolveu para a forma crônica, parasitando os tecidos dos animais. “A circulação do parasita no organismo do hospedeiro foi controlada de forma eficaz, provavelmente devido às respostas rápidas das células fagocitárias do hospedeiro. Embora muitas outras respostas imunológicas ao parasita possam estar envolvidas, esperamos que as descobertas relatadas possam nos ajudar a entender como a toxoplasmose se desenvolve e como ela pode ser tratada no futuro”, afirma a pesquisadora do IB.

A pesquisa foi financiada pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) e Rural and Environment Science and Analytical Services Division (RESAS). Ela é considerada uma pesquisa básica, ou seja, que trouxe avanço no conhecimento científico e servirá de referência para outros estudos sobre esse assunto, servindo, inclusive, de ponto de partida para o desenvolvimento de vacinas contra essa doença. Atualmente, existe apenas uma vacina registrada para toxoplasmose na Europa, que pode ser aplicada em ovinos.

O que é a toxoplasmose?

A toxoplasmose é causada pelo parasita unicelular denominado Toxoplasma gondii, encontrado em todo o mundo. A forma infecciosa do microrganismo é disseminada no meio ambiente pelas fezes de gatos domésticos e selvagens. Também é transmitido na carne de hospedeiros infectados ou da mãe para os filhos, durante a gravidez.

Daniela explica que nos animais de produção, interessantes para o ramo de pesquisa do Instituto Biológico, a toxoplasmose causa problemas em suínos e ovinos. Nesses animais, o principal problema causado está relacionado ao abortamento. Estima-se que a doença tenha prevalência de pelo menos 35% no rebanho desses animais. Aves de corte também podem ser hospedeiros do T. gondii, mantendo o ciclo da transmissão.

Consumo de carne contaminada pode trazer problemas graves

O consumo da carne dos animais infectados pode trazer problemas de saúde para os humanos, se ocorrer a ingestão da carne crua ou mal passada. “Em pessoas saudáveis, a doença causa sintomas leves, como febre e diarreia. Em pessoas com sistema imunodeprimido, a toxoplasmose pode causar danos mais sérios, como pneumonia e encefalite. As mulheres grávidas infectadas podem ter bebês com hidrocefalia, por exemplo. Em alguns casos, na fase adulta, essas pessoas que adquirem a enfermidade antes do nascimento podem ter problemas oculares”, explica a pesquisadora.

Como os protozoários são seres microscópios, não sendo possível identificá-los a olho nu, a pesquisadora do IB em conjunto com a USP e o Instituto de pesquisa escocês iniciará novo trabalho para avaliar a carne comercializada na cidade de São Paulo.

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